Temer se reúne com empresários e embaixadores por escândalo da carne

Operação Carne Fraca trouxe à tona um esquema no qual inspetores sanitários recebiam subornos dos frigoríficos para autorizar a venda de alimentos inaptos para o consumo
AFP
Publicado em 19/03/2017 às 14:22
Operação Carne Fraca trouxe à tona um esquema no qual inspetores sanitários recebiam subornos dos frigoríficos para autorizar a venda de alimentos inaptos para o consumo Foto: Foto: Antonio Cruz/ABr


O presidente Michel Temer realizará neste domingo (19) em Brasília reuniões de emergência com ministros, empresários e embaixadores estrangeiros pelo escândalo da carne, que ameaça prejudicar as finanças e a imagem do maior exportador de carne bovina e avícola do mundo.

Temer receberá às 15h00 os ministros da Agricultura, Blairo Maggi, e de Comércio Exterior, Marcos Pereira, junto a representantes dos frigoríficos. Duas horas mais tarde, se reunirá com os embaixadores dos maiores mercados de carne do Brasil, informou o Palácio do Planalto.

Uma investigação policial de dois anos da Polícia Federal deflagrada na sexta-feira, e intitulada "Carne Fraca", trouxe à tona um esquema no qual inspetores sanitários supostamente recebiam subornos dos frigoríficos para autorizar a venda de alimentos inaptos para o consumo.

Mais de 30 pessoas foram detidas até o momento e ao menos três frigoríficos foram fechados temporariamente, um dedicado ao sacrifício de frangos (do grupo multinacional BRF) e dois da empresa local Peccin, que fabricava mortadelas e salsichas, disse o Ministério da Agricultura.

Outros 21 estabelecimentos estão sob investigação e a pasta da Agricultura afastou de seu cargo 33 funcionários envolvidos no esquema. O caso provocou alerta fora do Brasil, que vende carne a cerca de 150 países.

As exportações brasileiras de carne de frango superaram em 2016 os 5,9 bilhões de dólares. Os dez principais compradores foram Arábia Saudita, China, Japão, Emirados Árabes Unidos, Cingapura, Coreia do Sul, Kuwait, Egito e Venezuela, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

As vendas de carne bovina somaram 4,3 bilhões de dólares, destinadas principalmente a Hong Kong, China, Egito, Rússia, Irã, Chile, Itália, Holanda, Venezuela e Arábia Saudita.

O escândalo corre o risco de desferir um novo e duro golpe ao país, afundado há mais de dois anos na pior recessão de sua história e com suas principais construtoras envolvidas na gigantesca investigação "Lava Jato".

Também ocorre num momento em que o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia (UE) buscam acelerar um acordo de livre comércio, no qual os países sul-americanos pedem maiores quotas de entrada para seus produtos de carne.

Risco para negociações UE-Mercosul 

"Pedimos esclarecimentos completos e urgentes ao Ministério de Agricultura", afirmou no sábado no Twitter o embaixador da UE no Brasil, João Cravinho.

O subsecretário de Assuntos Econômicos e Financeiros da chancelaria brasileira, Carlos Marcio Cozendey, admitiu que, se for descoberto que as irregularidades afetam todo o sistema, e não apenas alguns poucos frigoríficos, "isso realmente complicaria as negociações".

Mas, por enquanto, tudo indica que se trata de um episódio pontual, disse o diplomata à AFP. "Do ponto de vista criminal, da corrupção, é obviamente um episodio gravíssimo. Mas do ponto de vista sanitário, até onde a gente tem informação, isso não afeta o sistema de controle" brasileiro em seu conjunto, acrescentou.

Cozendey espera que a reunião deste domingo sirva para que o governo brasileiro explique detalhadamente aos embaixadores as dimensões do problema e que qualquer medida adotada pelos países estrangeiros seja proporcional às descobertas.

"Seria muito importante que as medidas sejam proporcionais ao que for efetivamente apurado e não que isso seja aproveitado para fechar mercados injustificadamente", adverte.

A próxima rodada de negociações entre os dois blocos deve ser realizada no fim do mês em Buenos Aires. As exportações brasileiras de carnes à UE somaram 1,366 bilhão de dólares em 2016, segundo o MDIC.

Empresas se defendem

Os investigadores não especificaram em quais instituições foram detectadas as irregularidades, mas afirmaram que em frigoríficos de pequeno porte foram observados "produtos cancerígenos e usados para poder maquiar a característica física" dos produtos.

Também foi identificada a presença de salmonela em produtos que saíram à venda, enquanto outros foram misturados com papelão, segundo as acusações.

As multinacionais brasileiras atingidas pelo caso defenderam em grandes páginas dos principais jornais do país a qualidade de seus produtos, enquanto crescia o temor entre a população de encontrar alimentos em mal estado nas gôndolas dos supermercados.

Além da gigante BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão), entre as empresas investigadas figura a JBS, líder mundial no mercado de carne, dona das marcas Big Frango, Seara Alimentos e Swift, entre outras.

A BRF afirmou que seu frigorífico avícola fechado possui "certificados internacionais" que lhe permitem exportar carne aos mais exigentes mercados do mundo, cono Canadá, União Europeia, Rússia e Japão. "No despacho da Justiça Federal que deflagrou a operação, não há qualquer menção a irregularidades sanitárias ou à qualidade dos produtos da JBS e de suas marcas", afirmou por sua vez esta empresa.

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