Lava Jato: ex-gerente da Petrobras usou lei para institucionalizar a lavagem de dinheiro

Operação Asfixia revelou que ex-gerentes da Petrobras agiam para beneficiar empreiteiras em contratos
JC Online
Publicado em 04/05/2017 às 12:30
Operação Asfixia revelou que ex-gerentes da Petrobras agiam para beneficiar empreiteiras em contratos Foto: Foto: Marcos Santos/USP Imagens


A deflagração da 40ª fase da Operação Lava Jato, denominada Asfixia, trouxe à tona, segundo os procuradores da força-tarefa no Ministério Público, a comprovação de que "o esquema criminoso instalado na Petrobras ainda não foi integralmente desfeito". O foco, nesta quinta-feira (4) foram três ex-gerentes da área de Gás e Energia da estatal, suspeitos de receberem mais de R$ 100 milhões em propinas de empreiteiras que eram contratadas pela empresa. Outra constatação, segundo as investigações, é de que para dissimular a origem ilícita e “esquentar” aproximadamente R$ 48 milhões provenientes do recebimento de propina mantidos em contas ocultas nas Bahamas, um dos ex-gerentes envolvidos utilizou a Lei da Repatriação, aprovada no ano passado, para regularizar a entrada dos recursos no Brasil.

“Esse fato é gravíssimo, pois mostra que a lei de regularização cambial (repatriação) institucionalizou a lavagem de dinheiro dos ativos mantidos no exterior”, afirmou o procurador da República Diogo Castor de Mattos, integrante da força-tarefa Lava Jato em Curitiba.

Por intermédio desse procedimento, o investigado regularizou a entrada dos recursos ilícitos mantidos no exterior, alegando que o dinheiro era proveniente da venda de um imóvel.

Segundo dados da Receita, o programa de Repatriação gerou arrecadação de R$ 50,9 bilhões de impostos e multas pagos pelos contribuintes, em 2016. Os ativos não declarados no exterior chegavam a R$ 169,9 bilhões e mais de 25 mil pessoas aderiram.

Um dos pré-requisitos era que o patrimônio repatriado não poderia ter origem ilícita. No entanto, de acordo com o Ministério Público Federal, a regra não impediu que o programa fosse usado para declarar ao Fisco dinheiro de propina.

"Isso vai além da anistia da sonegação fiscal e da evasão de divisas que o governo permitiu com a repatriação. Isso é legalizar a corrupção. Precisamos abrir a caixa preta da lei da repatriação", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Lava Jato.

Asfixia

De acordo com as investigações, mediante o pagamento de vantagem indevida, os ex-gerentes da pasta agiam para beneficiar empreiteiras em contratos com a Petrobras, direcionando as licitações para as empresas que integravam o esquema.

Os pagamentos eram intermediados por duas empresas de fachada que simulavam prestação de serviços de consultoria com as empreiteiras e repassavam as vantagens indevidas para os agentes públicos corruptos por três formas: pagamentos em espécie; transferências para contas na Suíça; e pagamento de despesas pessoais dos ex-gerentes.

Na Operação Asfixia estão sendo investigados os crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em mais de uma dezena de licitações de grande porte da Petrobras que foram fraudadas pelo grupo criminoso.

 

TAGS
lei da Repatriação petrobras lava jato
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory