Em novo depoimento ao juiz Sérgio Moro na condição de testemunha, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou a afirmar que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva não interferia em seu trabalho à frente do Banco Central entre 2003 e 2010. Em resposta a perguntas feitas pela defesa de Lula, Meirelles negou que o petista tenha feito qualquer interferência sobre a aplicação pela autoridade monetária de normas de prevenção à lavagem de dinheiro.
Em depoimento que durou apenas cerca de cinco minutos, Meirelles disse a Moro que não tinha nada a retificar ou acrescentar a um primeiro depoimento, prestado no começo de março. Questionado pela defesa de Lula, ele reafirmou que tinha independência para comandar o BC nos governos do petista.
"Quando conversamos pela primeira vez e ele me convidou para ser presidente do Banco Central, eu coloquei essa independência como uma das condições. Durante o curso da administração, isso foi respeitado na medida em que todas as decisões que foram tomadas pelo BC naquela oportunidade prevaleceram e na medida em que ele me manteve no cargo", repetiu Meirelles.
Perguntado então se essa independência permitiu ao BC aprimorar o combate à lavagem de dinheiro, o ministro respondeu que a autoridade monetária definiu em 2005 e 2006 a aplicação dessa lei pelo sistema financeiro.
"Foram feitas normas estabelecendo que deveriam ser comunicadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) movimentações atípicas e movimentações em moeda corrente acima de determinados valores, além da comprovação da origem dos recursos. Portanto, sim, foram editadas normas durante esse período, como é a prerrogativa do Banco Central", citou o ministro.
Segundo ele, Lula não interferiu na aplicação dessas normas. "Eu não me lembro sequer de ter conversado sobre isso com ele, francamente. Não posso afirmar que tenha conversado a respeito, mas certamente não houve interferência", enfatizou o atual ministro da Fazenda.
Meirelles confirmou ainda que a regulamentação do BC sobre o combate à lavagem de dinheiro seguiu os padrões internacionais. O ministro disse também que a autoridade monetária sempre foi considerada rigorosa na aplicação dessa lei.
Ele havia deposto em março como testemunha na investigação sobre o tríplex do Guarujá (SP). Nesta quarta-feira (21) o depoimento ocorreu no âmbito da ação sobre a sede do Instituto Lula, em São Paulo.