O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) declarou em interrogatório nesta terça-feira (31) jamais ter estabelecido relação de "toma lá dá cá" com Eike Batista e declarou que a única vez em que pediu recursos de seu "interesse pessoal" ao empresário foi em 2010, para ajuda financeira de campanha.
Segundo o peemedebista, ficou acertado durante reunião na casa de Eike um pagamento entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões. Cabral negou, no entanto, qualquer pagamento de propina a ele pelo empresário. "Foi ajuda financeira de campanha. Propina é toma lá dá cá", afirmou Cabral durante interrogatório conduzido pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pelos desdobramentos da Lava Jato no Rio.
Cabral e Eike foram alvo da Operação Eficiência, deflagrada em janeiro. As investigações apontam pagamento de US$ 16,5 milhões em propinas pelo empresário ao ex-governador para obter vantagens em seus negócios. Segundo o ex-governador, o braço direito de Eike, Flávio Godinho, participou da reunião e durante ela sugeriu que o repasse para a campanha fosse feito no exterior. "O meu pedido foi para ajuda de campanha e de preferência no caixa um. Ele disse que não tinha condições de ser no caixa um e pediu que o pagamento fosse no exterior", afirmou o peemedebista. Godinho também é réu no processo.
Cabral afirmou ter respondido a Eike e Godinho que não tinha conta no exterior para receber os valores, mas teria então indicados os doleiros Renato e Marcelo Chebar para fazer a operação. O dinheiro teria então sido entregue ao peemedebista, que declarou não saber o "modus operandi" dos doleiros.
Os irmãos Chebar fecharam acordo de delação premiada e indicaram que o esquema de Cabral teria US$ 100 milhões em contas no exterior, valor que foi devolvido ao Ministério Público Federal (MPF). O ex-governador nega que esse dinheiro seja dele e declarou que essa foi a única vez que recebeu recursos de campanha pelo exterior.
O ex-governador disse ainda que seus advogados vão solicitar uma acareação com os irmãos Chebar, assim como com executivos da Andrade Gutierrez, que também acertaram delação com o Ministério Público Federal (MPF). Também fez críticas à delação fechada com a H. Stern.
"Quero acareação com dono da H.Stern. Ele se aproveitou da situação para limpar situação fiscal dele", disse, ao insinuar que cerca de 200 joias compradas em dinheiro sem nota fiscal teriam sido atribuídas a ele, mas que poderiam ter outros donos. Cabral voltou a confirmar o uso de caixa dois, mas afirmou que não enriqueceu com esses recursos. "A quase totalidade de recursos em caixa dois eu gastei na política, nas eleições que me envolvi direta ou indiretamente, não foi para me enriquecer", disse.
Cabral também citou diversas vezes em que fez pedidos a Eike de ajuda financeira para programas de interesse do Rio, mas que esses solicitações não eram para benefício pessoal dele. Ele negou ainda que tenha recebido R$ 1 milhão por meio do escritório de sua mulher Adriana Ancelmo. "Vou pedir R$ 1 milhão para o escritório da minha mulher, sendo que ele me deu R$ 30 milhões? Ela nem foi a executiva principal de tratativas com o Eike (no escritório dela)", disse. Mais cedo, Adriana declarou que os processos de Eike ficam na mão de seu ex-sócio Sérgio Coelho.
"Respeito muito esse homem (Eike). Eu jamais fiz um toma lá dá cá com ele. Ele sempre reclamou comigo, especialmente na área de licenciamento ambiental", afirmou. Ele ressaltou ajuda financeira dada por Eike ao Estado do Rio por meio de doações a hospitais e outros projetos, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Um dos conflitos com Eike teria ocorrido com uma desapropriação de entre 80% e 90% do terreno do Porto do Açu, em São João da Barra, norte fluminense. "Tínhamos momentos de forte litígio com Eike".