O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, passou esta quinta-feira, 17, no Senado procurando parlamentares para conversar sobre a CPI instalada no início do mês com o objetivo de investigar empréstimos internacionais do banco nos últimos 20 anos. Fora da agenda oficial, Rabello de Castro abordou, nos corredores do Congresso, senadores do PSDB com pedidos de apoio
A reportagem presenciou um encontro da comitiva de Rabello com o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, na saída do plenário. Rabello e seus assessores cumprimentaram o senador e tiraram fotos com ele. A conversa durou menos de três minutos. Falaram sobre a JBS, cuja delação dos executivos gerou um pedido de prisão do senador, e também sobre a CPI.
Rabello disse que a comissão "é uma maluquice" e pediu que Aécio interviesse na composição do colegiado. O senador afirmou que, por formação, não se envolve em CPIs. "Eu escalei o Paulo Bauer para pedir ao (José) Serra. 'Vocês não participam de comissão. Quem sabe vocês dois...' Vocês deveriam chamar alguém do PSDB para tomar conta", disse Rabello a Aécio.
Líder do PSDB, o senador Paulo Bauer (SC) disse que o presidente do banco pediu que ele indicasse para a vaga deixada por Ricardo Ferraço (ES), que saiu da comissão, um senador que acompanhasse os trabalhos do início ao fim. Bauer afirmou que ainda não sabe quem indicará.
Segundo o líder da bancada tucana, Rabello defendeu os empréstimos do BNDES, mesmo em gestões anteriores, e reclamou de ter que atender aos pedidos da CPI. "Pelo que ele me disse, não tem nenhuma ação do banco que não tenha sido feita dentro da legalidade. Ele disse que existem muitos conceitos equivocados sobre as operações do BNDES", afirmou o senador. Procurado, Serra disse não ter conversado com Rabello.
Abordado pela reportagem, o presidente do BNDES demonstrou irritação ao ser questionado sobre o motivo dos encontros. Segundo ele, não há nenhuma tentativa de poupar o banco. "Essa é uma CPI que tem por obrigação esclarecer tudo. E o presidente do BNDES é o primeiro colaborador do esclarecimento total das coisas", disse. "Eu faço questão de não ser poupado. É uma posição contrária do que parece. Não estou defendendo o banco, eu aqui só estou esclarecendo."
Em outra abordagem, o presidente do banco estatal pediu apoio, ao sair do elevador privativo, ao vice-presidente do Senado, o tucano Cássio Cunha Lima (PB). O senador tucano não retornou aos contatos da reportagem ontem.
Oficialmente, constava da agenda do presidente do BNDES apenas encontros com os senadores Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CPI, e Roberto Rocha (PSB-MA), relator e autor do pedido de criação da comissão. Os dois confirmaram a reunião.
Segundo Alcolumbre, Rabello pediu a ele que "o nome da instituição não seja alvo de denúncias sem fundamento". "Ele quer que as apurações aconteçam de forma transparente", disse Alcolumbre, por meio de sua assessoria.
Já Rocha afirmou que tranquilizou o presidente do BNDES sobre os métodos de trabalho da CPI e que Rabello, por sua vez, colocou toda a estrutura do banco à disposição. "Eu disse que não tenho nenhum interesse de expor ou prejudicar a imagem da instituição BNDES. Jamais vou ter como alvo a empresa. O Rabello me disse: 'Fico muito feliz de ouvir isso, porque isso é uma tranquilidade para o mercado'", afirmou Rocha.
Esta não é a primeira vez que Rabello procura parlamentares para "blindar" o banco em uma CPI. Em junho, logo que assumiu, ele os procurou para evitar que funcionários fossem chamados para depor na comissão mista da JBS, ainda não instalada. A CPMI foi o que ajudou a derrubar Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES.