Em posse de Raquel Dodge, Temer pedirá harmonia a Poderes

Temer escolheu Raquel Dodge que era a segunda opção da lista tríplice. Nova PGR é considerada de ala contrária a de Rodrigo Janot
Estadão Conteúdo
Publicado em 18/09/2017 às 8:01
Temer escolheu Raquel Dodge que era a segunda opção da lista tríplice. Nova PGR é considerada de ala contrária a de Rodrigo Janot Foto: Foto: PR


Em guerra declarada com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer vai adotar um tom conciliador e defender a independência e maior harmonia entre os Poderes no discurso que fará na posse de Raquel Dodge. Ela é a primeira mulher a assumir a Procuradoria-Geral da República (PGR), o que também será destacado na fala do presidente. A expectativa é de que Temer não faça menção a Janot em seu breve discurso na cerimônia, marcada para as 8 horas, na sede da instituição.

Em seguida, o presidente embarca para os Estados Unidos, onde participa da Assembleia-Geral da ONU. Alvo de duas denúncias e um inquérito apresentados na gestão de Janot, o presidente pretende chamar a atenção para a participação feminina no comando de órgãos ligados ao Judiciário - além de Raquel no Ministério Público Federal, Cármen Lúcia no Supremo Tribunal Federal (STF) e Laurita Vaz no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Outro desafeto do ex-PGR, o ministro Gilmar Mendes, do STF, também tem presença confirmada na cerimônia desta segunda-feira, 18. Há dez dias, o ministro chegou a dizer que Janot foi o procurador-geral "mais desqualificado da história".

Janot deixa o cargo após enfrentar o seu pior momento - em suas próprias palavras - na reta final do mandato. O ex-procurador rescindiu na semana passada o acordo de colaboração premiada com executivos do Grupo J&F após suspeitas de "jogo duplo" de um de seus auxiliares, o ex-procurador Marcello Miller, que teria orientado a delação. O desfecho do acordo, o mais bombástico da gestão de Janot tanto pelos benefícios aos delatores como por acusar diretamente o presidente da República, abriu brecha para uma série de críticas ao ex-procurador-geral.

Mudanças

A nova procuradora-geral da República toma posse com a expectativa de ter uma atuação mais discreta e menos midiática do que seu antecessor, e sob incertezas do rumo que pretende dar à Operação Lava Jato.

A nova chefe do Ministério Público Federal já sinalizou que mudará a equipe e terá como um dos focos evitar vazamentos de informações dos processos - outro motivo de crítica recorrente a Janot. Na tarde de anteontem, dois procuradores que atuam na Operação Lava Jato foram avisados de que serão dispensados em 30 dias das funções.

O procurador José Alfredo de Paula Silva, coordenador do grupo de trabalho da Lava Jato na gestão de Raquel, avisou a Rodrigo Telles e Fernando Antonio de Alencar que serão dispensados da equipe. Ambos haviam manifestado vontade de permanecer no grupo de trabalho.

Raquel também já sinalizou que quer dar atenção a outras áreas, não só à Lava Jato. Exemplo disso é que seu vice, Luciano Mariz Maia, tem uma atuação voltada para questões de direitos indígenas. Ele é coordenador da Câmara de Coordenação e Revisão de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, tendo sido por quatro anos procurador federal dos Direitos do Cidadão adjunto. Raquel também pretende incluir mais mulheres em sua equipe.

Entre políticos que passaram a ser investigados durante a gestão de Janot, a expectativa em relação a Raquel é de que ela conduza os trabalhos de forma bem diferente de seu antecessor. "É uma mudança completa de postura, de uma pessoa que, espero, vá cumprir o seu dever. Não queremos o perfil de um procurador que tira foto ao lado de um cartaz dizendo que ele é a salvação do Brasil", afirmou ao Estado o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do seu partido, um dos mais envolvidos em suspeitas na Lava Jato.

Saída

Janot não participará da solenidade. Na sexta-feira, em seu último dia útil como procurador-geral, ele se despediu do cargo em uma cerimônia interna com apenas membros da Procuradoria e servidores. Janot fez um balanço da gestão e ganhou de presente um arco e flecha, enviado pela tribo Xokó, de Sergipe. O presente foi uma alusão à frase "enquanto houver bambu, lá vai flecha", dita por ele na reta final de seu mandato logo após apresentar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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