Historicamente um partido “de consenso entre seus caciques”, conforme definiu o professor de Comunicação Política da Universidade Makenzie, Roberto Gondo, ultimamente o PSDB tem vivido dias de divisão que ameaçam seus planos para as eleições de 2018. E os problemas que cercam a sigla não param por aí. Para citar alguns exemplos, no plano nacional, há ainda uma série de investigações judiciais ameaçando atores importantes da agremiação e um iminente desembarque do governo do presidente Michel Temer (PMDB). Em Pernambuco, há a indefinição quanto ao lançamento de uma candidatura própria ao Palácio do Campo das Princesas e a recente rusga entre o presidente da legenda, o deputado federal Bruno Araújo, e o também deputado Daniel Coelho, após este último ter sido vetado para ocupar o cargo de tesoureiro no Diretório Estadual.
A crise, no entanto, tem levado os tucanos a uma volta às origens. Como uma maneira de atenuar a a tensão interna, no último mês de novembro os dois postulantes ao cargo de presidente da Executiva Nacional do partido - Marconi Perillo, governador de Goiás, e o senador Tasso Jereissati - abriram mão da disputa e cederam espaço para a criação de uma chapa única encabeçada pelo governador de São Paulo e presidenciável Geraldo Alckmin. No cenário anterior, Perillo representava a ala do PSDB que apoia o senador Aécio Neves e a permanência da sigla no governo federal. Tasso, próximo dos cabeças pretas (grupo mais jovem e contestador do PSDB), defendia uma profunda reestruturação tucana e o rompimento com Temer.
“O PSDB volta à essência do PSDB, que é um partido de quadros que resolvem entre eles quem vai ser o candidato. O Geraldo hoje tem o caminho livre, porque não tem mais o (João) Doria nem o Aécio (Neves), que foi dissolvido. O desafio agora é outro: conseguir fazer uma mobilização nacional e escolher um partido que vai compor sua chapa”, avaliou Gondo.
Ao aceitar presidir o partido, Alckmin afirmou que, ao tomar posse, levaria a legenda para fora da base de Temer, mas manteria a indicação de apoio às reformas propostas pelo peemedebista. Os tucanos, que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e desde o início do atual governo fazem parte dele, pretendem evitar herdar a impopularidade do presidente, mas também não desejam, caso saiam vitoriosos no próximo pleito, governar um País com as contas públicas fora dos trilhos. “O PSDB tem um viés reformista e não é um partido idiota. (Apoiar as reformas) Não é questão de bondade ou fragilidade, é uma questão de inteligência. Qualquer presidenciável vai querer que, em 2018, o País esteja caminhando minimamente para reduzir o déficit das contas públicas”, detalhou o professor.
No campo estadual, o cientista político Adriano Oliveira avalia que o quadro é de disputa por espaço de poder. “De um lado está o deputado Bruno Araújo, que é um nome nacional, com expectativa de vir a se eleger senador e de se tornar ministro em um eventual governo do PSDB ou do PMDB, e quer o controle do partido no Estado. Do outro, o deputado Daniel Coelho, que também é um político de futuro. E no meio disso tudo, o ex-prefeito Elias Gomes, que se lançou pré-candidato ao governo de Pernambuco pelo partido”, explicou, ressaltando que acredita que os tucanos não teriam força para eleger um governador sozinhos em Pernambuco.
Sobre as questões apontadas pelos estudiosos, o deputado federal e presidente do PSDB-PE, Bruno Araújo, primeiro ministro (Cidades) tucano a deixar o governo Temer, afirmou que o partido não possui mais divisões. “No campo nacional, o partido alcançou a unidade interna com a escolha do governador Alckmin como presidente do partido, o que vai ser oficializado no próximo dia 9. Foi uma unidade construída de maneira dolorosa, com embates internos muito grandes”, cravou.
Em relação à situação da agremiação em Pernambuco, o parlamentar garantiu que ela terá candidato majoritário. “O PSDB está participando de um processo de diálogo que talvez tenha seu primeiro momento formal nos primeiros dias de dezembro, no encontro dos partidos políticos que têm uma outra concepção de governo para Pernambuco. O PSDB tem uma pré-candidatura a governador posta pelo ex-prefeito Elias Gomes, outra parte do partido defende meu nome nesse entendimento majoritário. Então sim, o PSDB terá candidato majoritário em Pernambuco”, revelou o tucano.
Procurados pela reportagem, nenhum membro da Executiva Nacional do PSDB foi localizado para comentar a fala dos cientistas políticos.