O irmão do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), o publicitário Maurício Cabral, admitiu nesta quarta (13) que recebeu R$ 240 mil por meio de sua empresa de publicidade – Estalo Comunicação Ltda – sem ter prestado serviço algum. O dinheiro teria sido repassado pela empresa Survey, de Alberto Conde (contador da empresa FW Engenharia), por meio de Carlos Miranda (preso desde novembro de 2016 e condenado três vezes por corrupção e outros crimes), apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador financeiro do esquema, que era chefiado pelo ex-governador.
O MPF sustenta que a FW, de Flávio Werneck, teria trabalhado para dar aparência lítica ao pagamento de R$ 1,7 milhão de propina. Maurício, que recebeu dinheiro, tenta demonstrar que agiu sem intenções. Ele informa que disse ao Carlos Miranda que precisava de trabalhos para serviços de publicidade e ele indicou a Survey. O publicitário afirma que sempre perguntava pelo trabalho a ser prestado em troca da quantia "Eu perguntava para o Carlos: E o trabalho? E o trabalho? Mas o trabalho nunca apareceu. Eu emiti a nota antes porque acreditei que o serviço seria feito". Maurício acrescentou não ter devolvido o dinheiro, que usou mais tarde.
De acordo com a denúncia do MPF, os pagamentos realizados pela Survey ocorreram em função de benefícios recebidos pela FW em contratos com o governo do Estado do Rio de Janeiro durante a gestão de Sérgio Cabral. Entre 2007 e 2014, o volume de contratos da empresa com o governo aumentou 37 vezes e incluiu obras expressivas, como a urbanização do Complexo de Manguinhos. Alberto Conde também admitiu, em depoimento, que a Survey foi utilizada para emissão de notas frias para serviços nunca prestados. Segundo ele, os pagamentos eram feitos por ordem de Werneck.
Além da Estalo Comunicação Ltda, de Maurício Cabral, outras empresas de fachadas teriam sido beneficiadas. Foram identificados pagamento de R$ 1,2 milhão, entre outubro de 2011 e dezembro de 2013, para a “Araras Empreendimentos”, de Susana Neves, ex-mulher de Sérgio Cabral. Outra beneficiada por a “LRG Agropecuária”, de Carlos Miranda, com quatro cheques no valor de mais de R$ 193 mil reais, entre dezembro de 2011 e abril de 2012. A empresa chegou a ter faturamento de R$ 2,3 milhões em 2013, e após a saída de Cabral do governo o faturamento foi de apenas R$ 7 mil.
O Ministério Público Federal pede a condenação de Sérgio Cabral, Flávio Werneck e Alberto Conde por 36 atos de lavagem de dinheiro, além da condenação de Susana Neves por 31 atos de lavagem, de Maurício Cabral por um ato e de Carlos Miranda por quatro atos.