A juíza Gabriela Hardt reagiu a uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que sugeriu amizade entre o juiz federal Sérgio Moro e o doleiro Alberto Youssef, delator das Operações Lava Jato e Banestado, durante o interrogatório do petista sobre o sítio de Atibaia nesta quarta-feira (14). O magistrado deixou os processos da Operação Lava Jato para assumir o superministério da Justiça do Governo Bolsonaro (PSL). Gabriela Hardt herdou os casos da investigação.
"Eu não sei porque cargas d’água no caso da Petrobras houve essa questão de jogar suspeita sobre indicação de pessoas. É triste, mas é assim. Possivelmente por conta de que o delator principal era o Youssef que era amigo do Moro desde o caso do Banestado. É isso. Lamentavelmente é isso", afirmou Lula.
"Dr, por favor. Ele não vai fazer acusações a meu colega aqui", interrompeu Gabriela Hardt.
"Eu não estou acusando, estou contatando fato", continuou o ex-presidente.
"Não é um fato, porque o Moro não é amigo do Youssef e nunca foi", afirmou a juíza.
"Mas manteve ele sob vigilância 8 anos", declarou o petista.
"Ele não ficou sob vigilância 8 anos e é o melhor o sr. parar com isso", disse a magistrada.
Lula é acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter sido contemplado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e também pelo amigo pecuarista José Carlos Bumlai com um valor total de R$ 1,02 milhão para obras de reforma e melhorias do sítio Santa Bárbara, no município de Atibaia, interior de São Paulo. Lula nega ser o dono do imóvel.
Preso desde 7 de abril, o ex-presidente pela primeira vez deixou a sala especial que ocupa na sede da Polícia Federal para se deslocar, sob forte escolta, até o gabinete de Gabriela Hardt, na Justiça Federal.
O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, divulgou a seguinte nota:
"Depoimento de Lula mostra arbitrariedade da acusação
O ex-presidente Lula rebateu ponto a ponto as infundadas acusações do Ministério Público em seu depoimento, reforçando que durante o seu governo foram tomadas inúmeras providências voltadas ao combate à corrupção e ao controle da gestão pública e que nenhum ato de corrupção ocorrido na Petrobras foi detectado e levado ao seu conhecimento.
Embora o Ministério Público Federal tenha distribuído a ação penal à Lava Jato de Curitiba sob a afirmação de que 9 contratos específicos da Petrobras e subsidiárias teriam gerado vantagens indevidas, nenhuma pergunta foi dirigida a Lula pelos Procuradores da República presentes à audiência. A situação confirma que a referência a tais contratos da Petrobras na denúncia foi um reprovável pretexto criado pela Lava Jato para submeter Lula a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba. O Supremo Tribunal Federal já definiu que somente os casos em que haja clara e comprovada vinculação com desvios na Petrobras podem ser direcionados à 13ª. Vara Federal de Curitiba (Inq. 4.130/QO).
Lula também apresentou em seu depoimento a perplexidade de estar sendo acusado pelo recebimento de reformas em um sítio situado em Atibaia que, em verdade, não têm qualquer vínculo com a Petrobras e que pertence de fato e de direito à família Bittar, conforme farta documentação constante no processo.
O depoimento prestado pelo ex-Presidente Lula também reforçou sua indignação por estar preso sem ter cometido qualquer crime e por estar sofrendo uma perseguição judicial por motivação política materializada em diversas acusações ofensivas e despropositadas para alguém que governou atendendo exclusivamente aos interesses do País.
Cristiano Zanin Martins"