No âmbito partidário, pelo menos em Pernambuco, os ambientes virtuais carecem de maior atenção. Dos partidos mais atuantes no Estado - PSB, PT, PSDB, DEM e PMDB -, os tucanos são os que melhor sabem fazer proveito da tecnologia. Há postagens diárias no Twitter e no Facebook destacando as ações dos parlamentares da sigla.
O PT vem em segundo lugar, com uma atualização mais eficiente no Facebook do que no Twitter. Até o fechamento desta edição, a última manifestação do partido no microblog havia sido feita no dia 11 de março. O PSB, que comanda o governo estadual e a prefeitura do Recife, fez sua última publicação no Twitter em junho.
O PMDB e o DEM dão ainda menos importância às redes sociais. Os peemedebistas pernambucanos quase não fazem uso desses espaços. A reportagem encontrou uma página no Facebook do PMDB da cidade de Itambé, cuja última atualização ocorreu em 2012. Os democratas também se manifestam no Facebook, por meio de uma página alimentada pela ala jovem do partido. No Twitter, porém, a última publicação é de fevereiro de 2010.
Para o professor de Comunicação e Política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Juliano Domingues, os dirigentes dos partidos em Pernambuco erram ao não dar a devida atenção às redes sociais. “Do ponto de vista social e político, você só existe se você puder ser visto e ser encontrado. As redes sociais têm se mostrado um importante ambiente para se obter visibilidade. Elas reduzem o chamado custo de informação”, avalia.
De acordo com Juliano Domingues, não bastar apenas “estar por estar” na internet. “É preciso que a organização esteja disposta à interação, à participação do cidadão”, fala. Pelo PSDB, o deputado federal e secretário-geral do partido, Betinho Gomes, valoriza a atuação partidária. “É um trabalho estratégico prioritário que tem tido um resultado muito positivo porque o PSDB está chegando à sociedade e se fazendo ouvir”, diz.
O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, promete novas ações. “A nossa meta é até o final de maio ter um novo formato na comunicação do partido”, garante.
O PT também prevê mudanças na forma de se comunicar de acordo com Bruno Ribeiro, vice-presidente estadual do partido. “Temos projetos para ampliar e atribuímos muita prioridade para isso”, explica, elencando iniciativas como a implantação de uma agência de notícias.
ENTREVISTA // JULIANO DOMINGUES
Na sua opinião, o que leva os partidos políticos relegarem a segundo, terceiro e 28º planos a comunicação via redes sociais?
Eu citaria dois motivos principais. O primeiro: a falta de informação por parte de líderes partidários a respeito do potencial das redes sociais digitais. Vivemos um processo de transição em termos de estratégias de comunicação. Desde o início do século passado, a comunicação passou a ser pensada para uma sociedade de massas, em que poucos falavam para muitos. Com o surgimento de novas tecnologias da comunicação e da informação, porém, percebe-se uma mudança importante naquilo que chamamos na academia de fluxo de informação, que passa a operar de muitos para muitos. Com isso, há a necessidade de adequação de estratégias de comunicação. Antes voltadas para uma sociedade de massas, elas devem ser pensadas, também, para uma sociedade de massa nichos. E as redes sociais digitais ilustram bem esse ambiente. O sucesso do ponto de vista da comunicação em organizações depende, em grande medida, da leitura dessa transição.
O segundo motivo: a adesão a essas novas estratégias implica, sobretudo, uma mudança de cultura política. É preciso que a organização esteja disposta à interação, à participação do cidadão. Organizações mais democráticas são menos resistentes à adesão às redes sociais digitais. Em alguns casos, como no meio empresarial, não há escolha: a sobrevivência de organizações pode depender dessa imersão nas redes sociais digitais. Essa presença no ambiente digital tende a impactar processos de competitividade entre empresas e organizações. Ou seja, se um partido decide mergulhar nesse ambiente, ele precisa estar disposto a interagir com o eleitor que não se mostra tão satisfeito assim com a classe política - pelo contrário. Além disso, nossa cultura política apresenta importantes traços autoritários, o que tende a dificultar esses processos de interação. Mas se o partido encara o desafio, tende a obter benefícios, uma vez que o eleitor/usuário de internet tende a valorizar esse comportamento interativo.
No mundo em que vivemos hoje, a comunicação via inserção partidária de Rádio e TV é suficiente para alcançar a audiência?
A TV e o Rádio ainda são os meios de comunicação que ainda possuem maior penetração na sociedade. Pesquisa da Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgada este ano indica que 95% dos brasileiros afirmam ver TV diariamente e 55% afirmam ouvir rádio. Entretanto, as redes sociais digitais oferecem um público propenso à interatividade, à participação. Além disso, permite a formulação de estratégias sob medida para o público que se pretende atingir. Há um direcionamento maior e, com isso, a possibilidade de uma recepção mais eficiente da mensagem enviada pelo partido. Outro ponto positivo das redes sociais digitais pode ser comparável às pílulas de inserção na TV. Há evidências de que as pílulas são mais eficientes do que o horário partidário. Nas redes sociais digitais, a lógica da pílula é a regra. Inesperadamente, na time line de Facebook do eleitor, por exemplo, pode surgir um post relacionado a um partido. E isso tem um imenso potencial em termos de comunicação.
Que prejuízos a ausência nas redes sociais pode ocasionar aos partidos? Ou não há prejuízos?
Do ponto de vista social e político, você só existe se você puder ser visto - e se puder ser encontrado. As redes sociais digitais têm se mostrado um importante ambiente para se obter visibilidade. Elas reduzem o chamado "custo de informação". Ou seja, é muito fácil acessar determinadas informações. O usuário de internet/eleitor pode fazer isso sentado no sofá. A ausência nesse contexto significa invisibilidade.