Momento político afeta o modo como o brasileiro enxerga as Olimpíadas

Funcionária pública Nivia Gouveia desistiu de trabalhar como voluntária no evento porque Dilma foi afastada
Mariana Araújo
Publicado em 31/05/2016 às 8:20


A pouco mais de dois meses para o início de um dos maiores eventos do planeta, os jogos olímpicos serão realizados no Brasil num momento de opiniões divididas. Hoje o  Recife é protagonista da festa, com a passagem da tocha olímpica, que mudará a rotina da cidade. Atletas, celebridades e pessoas comuns fazem a condução do símbolo olímpico, que, no entanto, chega num momento crítico, que faz pessoas, como a funcionária pública Nivia Gouveia, de 35 anos, repensar sobre a realização das Olimpíadas no País. Ela desistiu de ser voluntária nos jogos por causa do momento político. 

“Horas depois do afastamento (de Dilma), quando vi Temer sendo notificado, pensei em como poderia ser contrária a tudo isso que está acontecendo e lembrei das Olimpíadas. Decidi que não vou mais participar, não quero ver Temer ser o responsável por uma festa linda, que não foi ele quem fez. Não vou participar disso”, explicou.

 

Nivia disse que, no mesmo dia da posse de Temer, escreveu para a Central do Voluntariado das Olimpíadas informando os motivos pelos quais estava comunicando a sua desistência. “Sempre assisti aos jogos e queria participar de alguma maneira. O voluntariado foi o modo que encontrei. Vontade de ser voluntária ainda tenho, mas não quero compactuar com um golpista.”

Para o cientista político e professor da Faculdade Damas e da Universidade Católica Pernambuco, Thales Castro, política e Olimpíadas estão diretamente ligadas. “Jogos Olímpicos e política são indissociáveis. Por exemplo, os jogos de 1980, quando toda a delegação americana boicotou porque os jogos eram em Moscou. Era o período da Guerra Fria. Em contrapartida, quando os jogos foram em Los Angeles, em 1984, a nação soviética e diversos países do leste europeu não foram”, disse.

O estudante Rhayann Vasconcelos, de 19 anos, vai ser um dos condutores da tocha no Estado. Para ele, no entanto, em vez de separar, o espírito olímpico tem o poder de unir os brasileiros. “Há diversas correntes políticas que divergem, mas o momento é de torcer pelo Brasil. A história mostra isso, que o brasileiro se une, como ocorreu na Copa”, disse. “O impeachment cumpre uma formalidade, mas não a finalidade. O brasileiro vai ter oportunidade de corrigir um erro a que foi induzido a cometer por um grupo criminoso que quis a manutenção do poder”, opinou. 

Contrária à saída de Dilma, a professora de educação física e atleta amadora, Edilce Monteiro, 38 anos, também será uma condutora da tocha e acredita no poder transformador do esporte. “Se não fosse a política, não havia jogos aqui. Mas era outro momento do País e da imagem de Lula. O esporte leva muita gente a seguir um bom caminho. Tem uma função social”, avaliou. “Acho que o esporte pode dar muitos exemplos para política, como solidariedade e honestidade”, acrescentou.

O publicitário Leandro Porth conduziu a tocha no interior de Alagoas e enxerga a realização dos jogos como uma troca de foco, mas não de tensão. “Acho que o País vai dar uma respirada e tirar um pouco o foco dessa polarização da população. Mas acredito que as pessoas não vão esquecer o que está acontecendo no País”, opinou. 

O professor Thales Castro lembra que o público poderá dar o tom político durante os jogos. “Pode ser que o público que comprou os ingressos e que vai aos eventos se manifeste politicamente. É provável que a plateia venha a ter um nível de engajamento político”, disse. 

Vaias também são esperaras. O professor lembrou da abertura dos jogos Pan-Americanos, em 2007, quando o ex-presidente Lula foi vaiado, e a abertura da Copa do Mundo, quando Dilma também foi hostilizada. “Parece que vaias farão parte dos cenários políticos dos grandes jogos,sobretudo na abertura”, pontuou. Ele também acredita que ocorrerão manifestações de rua.

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