Termina nesta segunda (15/08) o prazo para registro de candidaturas e nesta terça (16/08) será dada a largada para a corrida eleitoral mais curta dos últimos anos. No Recife, sete candidatos vão disputar, em 45 dias, num primeiro turno, votos de 1,1 milhão de eleitores para o cargo de prefeito. A perspectiva de campanha mais barata – sem patrocínio de empresas, conforme novas regras – exige criatividade presencial, na TV, rádio e internet, espaço, aliás, que deve fazer a diferença na era digital. Mais de 50% dos brasileiros acessam a web de casa, já mostrou pesquisa do IBGE, e com a popularidade de celulares e smartphones, uma multidão, principalmente jovem, passa o dia ligado nas redes sociais. Serão hashds_matia_palvr (palavras-chave) pra todo lado e uma chuva de frases de efeito.
“Vai virar uma eleição de slogans”, diz o publicitário Renato Meirelles, ex-Data Popular, hoje do Instituto Locomotiva (São Paulo), especialista em consumo e opinião pública. Ao participar de um seminário do Instituto Patrícia Galvão, na última segunda, em São Paulo, para jornalistas de todo o Brasil, Meirelles lembrou que com o tempo reduzido na TV, os políticos devem apostar em mensagens curtas. “Será pouco esclarecedor para os eleitores. Não haverá espaço para explicar as propostas”, comentou. Por esse motivo, alerta aos candidatos: “Convidem o eleitorado para visitar o site”. E, para os votantes: “Busquem mais informações sobre as proposições”.
A campanha na TV e rádio só começa dia 26 de agosto. Nesta terça, o juiz da propaganda eleitoral no Recife, Clicério Bezerra, reúne-se com representantes do Ministério Público para acertar últimos detalhes e, deve realizar, na mesma semana, encontro com partidos e veículos de comunicação para definir os planos de mídia, ou seja, quanto tempo cabe a cada candidato e coligação. Só os que tentam ser prefeito terão guia na TV (horário do almoço e do jantar). Haverá ainda as inserções de 30 segundos ao longo da programação, para majoritários e proporcionais. Na internet e nas ruas, a busca de votos estará liberada depois de amanhã.
“Espero uma campanha de menor poder econômico, como orienta a nova lei (13.165/2015), e que os candidatos aproveitem o pouco tempo para apresentar suas propostas”, afirma o juiz Clicério Bezerra. Para o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco, as regras “incentivam um tipo de campanha que havia caído em desuso, a do corpo a corpo, da interação face a face”. O tempo mais curto conta a favor dos políticos que possuem mandato ou que já tenham disputado outras eleições, avalia. O iniciante terá menos oportunidade para se tornar conhecido. Menos visibilidade significa menos voto. Em tese, a campanha mais curta não favorece a renovação dos quadros, alerta. Para convencer o eleitor, afirma, “vão precisar bater perna e gastar muita saliva. Só o ambiente virtual não é suficiente para garantir sucesso. Mais do que nunca, é preciso interagir face a face, é preciso conversar com o eleitor”.
SEGREDO
As assessorias fazem segredo do que vem por aí. Candidatos a prefeito do Recife coletam propostas e só durante a campanha devem apresentar planos de governo para uma cidade que cresceu nas últimas décadas e, ao mesmo tempo, sofre com a falta de serviços básicos, como a oferta de água, coleta e tratamento de esgoto, carências na saúde, educação infantil e segurança, associados às demandas modernas de mobilidade e ocupação do espaço urbano de forma sustentável.
Nos últimos dias de pré-campanha, cada um dos postulantes tem dado pistas de suas tendências. Candidato a reeleição, o prefeito Geraldo Julio (PSB) registra suas andanças e obras na cidade e manifesta no Facebook como é boa a proximidade, “o pegar no braço, o olho no olho”. O opositor João Paulo (PT), ex-prefeito reeleito, tem promovido “cirandas” para ouvir a comunidade. O “#voltaJoãoPaulo” já vem sendo replicado. Outros dois candidatos, os deputados Daniel Coelho (PSDB) e Priscila Krause (DEM), também discutem o espaço urbano no “#orecifequeeuquero”(Daniel) e no “#voceprefeito(a)”(Priscila). Carlos Augusto Costa (PV), ligado à temática do meio ambiente, tem o “#RecifebomparaViver”, assim como o deputado Edilson Silva (PSol), que apresentam propostas no #RecifeTemVoz. Simone Fontana (PSTU) ainda tem sido discreta no seu perfil.
“Somente com o desenrolar da campanha e pesquisas de opinião é que se terá melhor noção sobre temas com papel-chave. Como nos últimos anos, debates sobre o espaço urbano e mobilidade devem se destacar - ou, ao menos, deveriam”, diz Juliano.