Sem ajuste, programa de Lula para 2018 prevê gastos sociais e crédito

De olho em 2018, Lula tem defendido aumento do gasto público para estimular consumo
Paulo Veras
Publicado em 26/03/2017 às 9:30
De olho em 2018, Lula tem defendido aumento do gasto público para estimular consumo Foto: Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula


Renda mínima, aumento do Bolsa Família e do seguro-desemprego, ampliação do crédito para estimular o consumo. Todas as principais propostas que o PT tem discutido para a economia, enquanto esboça o programa que será apresentado pelo pré-candidato à presidência Lula (PT), envolvem aumentos de gastos públicos. Apeado do poder em meio às “pedaladas fiscais” da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT elegeu a economia como foco do discurso para atrair eleitores com vistas a 2018. A ordem no partido é se opor frontalmente ao discurso de ajuste fiscal da gestão Michel Temer (PMDB).

“O governo não pode só falar em corte, corte, corte. Não há nenhuma possibilidade de nós resolvermos os problemas da economia brasileira só falando em corte”, afirmou Lula em um vídeo de final de ano. Em todos os discursos que tem feito desde então, o petista defende o aumento do crédito e do financiamento para empresas; este através do BNDES. “Se a pessoa está devendo um pouquinho, pega um novo empréstimo, paga aquele velho e começa a vida nova. É preciso circular o dinheiro na mão das pessoas”, esboçou o ex-presidente.

Cada vez mais candidato, Lula tem se reunido com economistas e especialistas em mercado para formular propostas para geração de emprego e crescimento econômico. Além disso, a bancada do PT no Senado tem elaborado um “plano de emergência” para o crescimento. Previsto para ficar pronto no final de maio, o documento também será submetido a Lula.

“Nosso caminho é o caminho inverso do governo Temer. Ele faz uma política de austeridade. A gente acha que num momento de depressão como este, para animar a economia, o governo federal tem que aumentar investimentos sociais e em obras públicas”, explica o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), candidato à presidência nacional do PT. “Nós estamos inclusive discutindo nesse programa a ideia de uma renda mínima cidadã. O (Eduardo) Suplicy é que vai gostar disso. Porque nós estamos entrando na quarta revolução industrial: época da robótica e da nanotecnologia. E cada vez mais nós vamos ter dificuldade de ter muitos empregos formais”, sinaliza o Lindbergh.

Líder da oposição no Senado, o senador Humberto Costa (PT-PE) lembra que a ampliação do Bolsa Família já foi defendida inclusive pelo Banco Mundial como forma de amenizar os efeitos da recessão sobre os mais pobres. O pernambucano também diz que há margem para a União bancar o aumento nas despesas. “O governo agora está falando em ampliar a carga tributária. Dependendo de que tipo de imposto vá ser implementado ou aumentado, é o caminho. Não tem como fazer o País sair dessa recessão se não tiver investimento público”, defende.

IDAS E VINDAS DO PT

Em 2002, quando venceu a primeira eleição presidencial, Lula conseguiu convencer empresários e investidores de que o sindicalista virulento se tornara “paz e amor” ao lançar a Carta ao Povo Brasileiro, um manifesto para o mercado que pregava reformas da previdência, trabalhista e tributária, garantia controlar a inflação, reduzir a taxa de juros e ampliar o investimento público. O texto também prometia manter a política de superávit nas contas públicas, mas defendia que o equilíbrio fiscal não é um fim em si mesmo. “Queremos equilíbrio fiscal para crescer e não apenas para prestar contas aos nossos credores”, escreveu Lula.

Quinze anos depois, o PT ameaçado pelas denúncias de corrupção promete um “giro à esquerda”. No caderno de teses para o 6º Congresso Nacional do partido, que acontece em junho, o cientista político André Singer, porta-voz do primeiro governo Lula, e o secretário nacional de Formação do PT, Carlos Árabe, criticam a Carta ao Povo Brasileiro e a “guinada neoliberal do segundo governo Dilma”.

Em 2015, quando Dilma enfrentava uma oposição crescente no Congresso impondo a votação de pautas-bomba, o PT e os movimentos sociais que davam sustentação ao governo foram às ruas protestar contra o ajuste fiscal tocado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. Na mesma época, o hoje pré-candidato Lula tentou convencer Dilma a nomear seu ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda; cargo que ele ocupa no governo Temer para fazer valer o ajuste criticado pelos petistas.

No início de 2016, quando a petista lutava para permanecer no cargo, o PT marcou posição contrária ao governo com um “programa emergencial” que propunha reajuste de 20% no Bolsa Família, o uso de reservas internacionais em obras de infraestrutura, saneamento e habitação, e o aumento de impostos para os mais ricos.

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