PSL

Operação contra Luciano Bivar é mais um capítulo da crise no PSL

Crise envolve não só apenas o suposto caso de candidaturas laranjas, mas a disputa pelo poder dentro do PSL e a possível debandada de parlamentares

Luisa Farias e Mirella Araújo
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Luisa Farias e Mirella Araújo
Publicado em 16/10/2019 às 13:56
Foto: Diego Nigro/Arquivo JC Imagem
Crise envolve não só apenas o suposto caso de candidaturas laranjas, mas a disputa pelo poder dentro do PSL e a possível debandada de parlamentares - FOTO: Foto: Diego Nigro/Arquivo JC Imagem
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A operação contra o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, é mais um capítulo da crise instaurada dentro do partido que não envolve apenas o suposto caso de candidatos laranjas, mas a disputa pelos fundos partidário e eleitoral, além das questões jurídicas com uma possível debandada dos parlamentares pesselistas. Esse tensionamento, sobretudo, ameaça a bandeira anticorrupção defendida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.

Apesar de não haver nenhum escândalo de corrupção envolvendo diretamente o governo federal, a lista de nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) que estão sendo investigados pela Polícia Federal tem aumentado nos últimos dias. Além do presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE), também respondem por inquéritos na Justiça o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho “01” do chefe da nação, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), e o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

A investigação sobre as supostas candidaturas laranjas do PSL nas eleições de 2018 atingiu primeiramente o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. Também presidente estadual do PSL de Minas Gerais, ele foi indiciado pelo Polícia Federal sob suspeita de liderar um esquema de desvio de recursos do partido no seu estado. No mês passado, o líder do governo no Senado Federal, Fernando Bezerra Coelho (MDB) foi alvo de mandados de busca e apreensão em uma operação que investigava supostos crimes cometidos na época em que ele foi ministro da Integração Nacional no governo de Dilma Roussef.

No fim de 2018, Flávio Bolsonaro e seu ex-motorista Fabrício Queiroz se tornaram alvo de procedimento investigatório do Ministério Público do Rio de Janeiro, iniciado a partir de relatórios do extinto Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – hoje Unidade de Inteligência Financeira (UIF). O Coaf identificou uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz e também na conta do primogênito de Bolsonaro. Para o MP, a movimentação trata-se de um suposto esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), quando Flávio era deputado estadual. A investigação contra o senador está suspensa por liminar no ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Com isso, Bolsonaro tenta se equilibrar entre o discurso que o elegeu e o pragmatismo necessário para manter aliados importantes ao seu lado. “Ele tem de se associar com membros de uma classe que ele rejeita e, de vez em quando, ele chama isso de velha política, de Centrão. Mas, ao mesmo tempo, para seus militantes, ele tenta se distanciar ao máximo desses nomes e dizer que não é com ele”, considera o cientista político e diretor de Políticas Públicas do Livres, Magno Karl.

No mês passado, Bezerra Coelho foi alvo de mandados de busca e apreensão da PF no âmbito da operação que apura suspeitas de desvios em obras públicas do Ministério da Integração Nacional, na época em que era ministroa p dasta no governo Dilma Rousseff (PT).

Magno Karl explica que há um custo político de perder aliados como FBC, nome visto como um dos principais articuladores do governo no Congresso. “Bolsonaro sabe que precisa do Fernando Bezerra no Senado e não quer rifar esse apoio na primeira dificuldade que aparecer. Ao mesmo tempo, ele tem que dar alguma satisfação aos seus militantes. Da mesma forma o ministro do Turismo, em que já havia muitas denúncias relacionadas ao usos de laranjas durante a campanha. Essas denúncias não morreram, e o constrangimento é muito grande. Dizem que Bolsonaro tem dívida de gratidão com o ministro e que por isso, está resistente em demiti-lo”, diz Magno.

Bivar

No caso de Bivar, a situação é diferente, pois o que está em jogo é o comando do PSL. Segundo o sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando, caso seja realmente constatado o envolvimento de Bivar no desvio de recursos, isso fortalece “uma tese jurídica de que o presidente não gostaria de se envolver com corrupção” e poderia servir como base para a saída dos parlamentares do partido sem correrem o risco de perderem os seus mandatos. “Bolsonaro e os filhos querem ter poder dentro do partido e também ter o dinheiro que o PSL passou a ter por conta do aumento substancial da bancada”.

Se por um lado, para muitos críticos as mudanças de partido podem significar incoerência. Por outro lado, essas trocas são vistas pelos bolsonarismo como algo positivo, já que o presidente durante toda sua trajetória política faz questão de usar o partido apenas como um instrumento e não como construção de base. Isso significa, que para os eleitores os casos de corrupção pode ser facilmente desassociados a figura de Bolsonaro. “Não dá pra saber se até a eleição de 2022 vai prevalecer essa dinâmica do Bolsonaro de conseguir se desligar tranquilamente dos partidos e nada respingar sobre ele. Até agora tem dado certo. Mas nada garante que isso continue assim”, diz Prando.

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