A deputada federal Marília Arraes (PT) ainda nutre o desejo de disputar a Prefeitura do Recife, mesmo após a resolução do partido, apresentada nesta quarta-feira (15) pelo presidente do PT Recife, Cirilo Mota, que indica uma manutenção na aliança com o PSB. Assim, o partido dá um passo na direção de apoiar o candidato do PSB no pleito, que deve ser o também deputado federal e primo de Marília, João Campos (PSB). Mas, na visão da petista, a decisão final ainda será tomada pelo Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, o que dá um fôlego para que o grupo de Marília siga trabalhando em nome de ter uma candidatura própria na capital.
"Respeito o posicionamento, tanto de Cirilo, quanto de quem tem esse direcionamento. Mas o nosso posicionamento é diferente e nós vamos fazer de tudo para que prevaleça a posição de independência do partido, que é de ter uma candidatura própria. Não pode o PT ser o protagonista nacional na oposição a Bolsonaro e ficar como linha auxiliar de outro partido em um Estado importante como é Pernambuco", afirmou Marília à reportagem do Jornal do Commercio, nesta quarta-feira.
Marília vai a São Paulo (SP) nesta quinta-feira (16) para participar da posse do Diretório Nacional. A ocasião também marcará o momento de saber quais serão os nomes que vão compor a Executiva Nacional, o Grupo Tático Eleitoral Nacional e a partir dai, saber o que o PT tem como estratégia para as capitais. "Foi o que aconteceu em 2018, o partido estadualmente definiu por ter uma candidatura própria. Mas nacionalmente ele considerou que para a estratégia partidária nacional deveria ter uma aliança com o PSB. Por isso, nós não tivemos a candidatura. Mas agora é um contexto totalmente diferente. A gente está vivendo em um momento que o PT tem chances de ganhar a eleição em poucas capitais do Brasil, e o Recife é uma delas. Há esse precedente de 2018, que já aconteceu uma vez e a gente tá pontuando bem nas pesquisas. Dificilmente esse raio cai duas vezes no mesmo lugar", afirmou.
LULA
Outro ponto que dá força ao desejo de Marília é o posicionamento do ex-presidente Lula, principal líder petista, em defesa de candidaturas próprias para fortalecer a sigla. "A estratégia nacional do partido tem se alinhado, pelo discurso de Lula e das principais lideranças nacionais de que é importante que a gente tenha candidatura nas principais cidades do Brasil, não somente nas capitais, mas também nas grandes cidades. Tudo indica que nacionalmente vai se direcionar para esse caminho de ter uma candidatura própria. É claro que a gente quer que haja o minimo de fragmentação possível e que haja menos danos a unidade interna do partido do que houve em 2018", explicou Marília Arraes.
No início da tarde desta quarta-feira (15), o presidente do PT no Recife, Cirilo Mota, apresentou a resolução do partido que aponta um caminho de alianças para as eleições municipais deste ano. "No debate dessa resolução já apontamos que o caminho que a Executiva do PT aponta é de alianças, pois viemos de uma aliança vitoriosa em 2018", explicou.
Segundo Cirilo, estar na Frente Popular rendeu bons frutos ao Partido dos Trabalhadores, não apenas em 2018, quando o partido apoiou a reeleição de Paulo Câmara (PSB), mas desde os tempos em que o partido governava o Recife. "Em 2018 recuperamos nossas vagas na Câmara Federal, elegemos três deputados estaduais e reelegemos o nosso senador Humberto Costa. Foi nesse campo (de aliança) que os governos do PT se elegeram com João Paulo e João da Costa e defendemos hoje que a candidatura seja nascida nesse mesmo campo de aliança", disse.
Marília disse discordar de manter a aliança com o PSB por não ver grandes vantagens em se ter secretarias. "Me mantenho na oposição ao PSB, não apoiei o candidato do PSB ao governo (Paulo Câmara), não fiz campanha para o candidato do PSB ao governo, não indiquei absolutamente nenhum cargo para compor governos do PSB. Então, discordo desse posicionamento dele, apesar de respeitar e achar que ele (Cirilo) tem o direito de se expressar. Agora, não vejo vantagem em se tornar linha auxiliar de um partido quando você tem potencial para ser personagem principal, e também não vejo uma secretaria ou duas secretarias, uma secretaria no estado, outra no município. Não vejo isso como algo relevante para um partido que tem um protagonismo nacional, uma estratégia nacional como o PT", afirmou Marília Arraes.
Questionada sobre apoiar a aliança caso seja a decisão da direção nacional do PT, Marília refutou a ideia. "Eu não vejo uma justificativa política para se apoiar o PSB, estamos na oposição e o PSB não mudou sua forma de gestão, de diálogo, o que vimos foi uma leve mudança por interesse em manter o núcleo de poder que era Pernambuco. Foi uma mudança puramente pragmática para se manter no poder. O PSB saiu do Foro de São Paulo, eles têm seus problemas internos, que não deixam que eles tomem posição consolidada em relação a temas importantes ao país. Por exemplo, quantos deputados do PSB foram a favor da Previdência? Não vejo justificativa política para se apoiar o PSB, não acho que é uma boa gestão para a cidade do Recife, não acho que o governo do Estado esteja sendo bom. Não acho que justificativas eleitoreiras e pragmáticas sejam suficientes para que a gente mude de oposição", afirmou.
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A RESOLUÇÃO DO PT
Trecho da resolução do PT aponta que o melhor caminho é permanecer na Frente Popular, o que esfria os planos da deputada federal de ser candidata a prefeita. "Reafirmamos que o PT deve permanecer na Frente Popular do Recife, dialogando com os setores progressistas da capital, colocando o protagonismo do partido a serviço do debate democrático e popular construindo com prioridade absoluta nesse período, a montagem da chapa completa de vereadores/as, buscando a sua ampliação com critérios de representatividade política e social, com atenção às diversidades, a participação de jovens, negros e mulheres candidatas, todos e todas engajadas para valer, denunciando as perseguições ao presidente Lula", diz trecho do documento.