Apesar de caminharem dentro do mesmo espectro político, ou seja, no campo da esquerda, é comum ver o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB) se colocarem em palanques opostos na disputa pelo poder. Em Pernambuco, o ponto central dessa relação está no Recife, e não é nenhuma novidade petistas e socialistas terem candidaturas próprias. No entanto, as eleições de 2020 trazem um fator novo muito além da oposição de direita, ela traz a corrente bolsonarista que quer ganhar o seu espaço.
Enquanto no PSB o nome de convergência para a sucessão do prefeito Geraldo Julio, é o do deputado federal João Campos, no PT há um imbróglio em torno da candidatura da deputada federal Marília Arraes. Uma ala do partido, que tem o senador Humberto Costa como um destes representantes, defende a manutenção da Frente Popular do Recife, enquanto a parlamentar tem o aval do diretório nacional, inclusive do ex-presidente Lula.
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“Em termos de eleição, historicamente o PT e o PSB não nasceram juntos. Se formos recapitular essa trajetória, nas eleições municipais em 1996, o PSB apoiou a candidatura de Roberto Freire, pelo PPS, enquanto João Paulo disputava pelo PT e contava com o apoio do PCdoB, ou seja, eles tinham campos de pensamentos diferentes”, explica o cientista político Vanuccio Pimentel.
O estudioso rememora que foi a partir da eleição de João Paulo, que hoje está no PCdoB, em 2000, e em 2003 com o início do governo Lula, é que o PSB e PT começaram a andar juntos. A união permaneceu também no projeto de sucessão de João Paulo, com João da Costa sendo eleito prefeito e tendo como vice-prefeito Milton Coelho (PSB). “O rompimento veio, em 2012, com o projeto político do ex-governador Eduardo Campos à presidência, e lançamento da candidatura de Geraldo Julio a prefeitura do Recife”, afirma Pimentel.
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Naquele ano, os petistas racharam enquanto decidiam se lançariam o então prefeito João da Costa. Com a briga, e pretensões de lançar-se candidato a presidência da República dois anos depois, Eduardo Campos apadrinhou a candidatura do atual prefeito Geraldo Julio.
O âmbito nacional sempre teve um peso direto nas estratégias políticas locais das duas legendas. De acordo com o historiador e cientista político Alex Ribeiro, foi o “Eduardismo” e o “Lulismo” que ajudaram no diálogo das duas siglas em Pernambuco. “O curioso é que o enfraquecimento dessa aliança começou a ocorrer quando o Eduardismo ganhou mais força. Isso foi corroborado com a saída de Lula, e um governo questionável da presidente Dilma Roussseff.
Após a morte do ex-governador de Pernambuco, em um acidente aéreo, em 2014, o PSB apoiou no segundo turno das eleições para presidente, o senador Aécio Neves do PSDB. Em 2016, o diretório Executivo Nacional do PSB apoiou o processo de impeachment da presidente Dilma no Congresso Nacional. “Acredito que esse foi o momento mais tenso da relação histórica entre o PT e o PSB, porque as consequências foram em todos os âmbitos, do nacional ao local. Mas o custo político para alianças é a sobrevivência na arena política”, avalia Ribeiro.
Estes posicionamentos distintos resultaram, novamente, em duas candidaturas próprias a Prefeitura do Recife. Diferente do último pleito, em 2012, que contou com Humberto Costa como cabeça de chapa e João Paulo como vice, sendo derrotados no primeiro turno por Geraldo Julio - então quadro técnico do governo do Estado que disputava sua primeira eleição. Em 2016, o PT foi representado pelo ex-prefeito João Paulo, e o deputado federal Sílvio Costa Filho (PRB) na posição de candidato a vice-prefeito. O petista levou a disputa para o segundo turno, mas amargou uma nova derrota nas urnas, e Geraldo Julio foi reeleito com 61,30% dos votos. Os partidos voltaram a se entender em 2018, quando o PT decidiu apoiar a reeleição de Paulo Câmara, em detrimento à candidatura de Marília Arraes ao governo do Estado. Marília, então, se elegeu deputada federal e Humberto Costa se reelegeu senador pela Frente Popular.
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De olho na direita conservadora
O fato é que as eleições de 2020 ocorrem em um cenário atípico, já que desde João Paulo passando pela quebra da hegemonia petista com a eleição de Geraldo Julio, até os dias atuais em que o PSB busca manutenção a frente do Executivo, a agenda da esquerda não é mais dominante. “Nós tivemos um período de 20 anos, com o centro de esquerda dominando a prefeitura. Isso requer um grau de alinhamento mais bem planejado, então o que vemos é um desgaste natural entre a relação do PT e o PSB”, declara o cientista político Ernani Carvalho.
Para ele, a verticalização da corrente de centro direita exigirá um custo elevado nas articulações. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro teve uma votação expressiva na Capital, liderando os votos com 43,14%. “Há sim, uma semente bolsonarista plantada e obviamente a força dela vai ser medida não só pela capacidade de articulação, mas também pela avaliação dos governos”, destacou.
Segundo o deputado estadual e líder do PSB na Assembleia Legislativa, Isaltino Nascimento, o ideal é que seja mantida a aliança entre os partidos no Recife contra a postura conservadora e autoritária do governo federal. “A conjuntura nacional abre a necessidade de construirmos uma ação em 2020 já de olho em 2022. É preciso respeitar o posicionamento de cada partido, mas precisamos também olhar a eleição municipal com foco de resistência de imediato”, declara Isaltino, que deixou o PT em 2013, para se filiar ao PSB.
Já a deputada estadual Teresa Leitão (PT) afirma que 2020 trata-se de um cenário diferente e que não dá para prever o resultado as alianças de agora com base no que ocorrerá em 2022. “O PT tem que defender o seu legado, dentro desse campo ele é o partido mais atacado”, disse Teresa.
A petista ainda declara que não vê problema em ter mais de uma candidatura no mesmo campo. “Nós temos Marília, João Campos e Túlio Gadelha (PDT) até agora, e essas candidaturas constituem um campo de oposição a Bolsonaro. Então, pode ser uma tática muito mais exitosa, do que concentrar tudo em uma candidatura, nós temos segundo turno”, frisou.