Mais difundida nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, a esgrima é uma das modalidades olímpicas que ainda estão longe de se popularizar no Brasil. Ainda assim, há quase um ano e meio, já é possível ter contato com esse esporte no Estado, por meio da escolinha do Clube Náutico Capibaribe. A iniciativa de formar esgrimistas em Pernambuco é do mestre d’armas paraense Daniel Gonçalves. As aulas acontecem todas as segundas e quartas-feiras e costumam atrair novos interessados a cada semana.
A curiosidade natural que o jogo de espadas desperta na maioria das pessoas é apenas um dos motivos pelos quais a esgrima vem exercendo certo fascínio no público pernambucano. O pressuposto fundamental dessa prática é acertar o oponente e não ser tocado. Para atingir essa meta, no entanto, cada movimento do esgrimista precisa ser minuciosamente pensado antes de se converter em ação. E em questão de segundos. Por esse motivo, o esporte é uma das atividades físicas que mais desenvolvem habilidades como concentração e rapidez de raciocínio (veja matéria ao lado).
Até que realize seu primeiro jogo, entretanto, o aluno é convidado a percorrer a história do esporte com aulas teóricas nos primeiros encontros. Resumidamente, a esgrima tem sua origem na Europa, mais precisamente na Itália, onde surgiram os primeiros estudos sobre o uso das espadas para ataque e defesa durante os combates militares. Por volta do século 17, porém, apareceram as primeiras pistolas. Essas armas não suplantaram a espada, pois, em caso de falha das armas de fogo, elas deveriam ser utilizadas, mas mudaram drasticamente a face dos combates. Nesse mesmo século, o domínio na produção de espadas passou dos italianos para os franceses, surgindo então a maior rivalidade esgrimística da história, que dura até a atualidade.
A esgrima perdeu suas características bélicas no fim do século 18, quando apareceram as armas semiautomáticas e as espadas caíram em desuso nos combates. Com isso, as técnicas ficaram restritas ao âmbito esportivo. Em 1896, o jogo de espadas foi introduzido na Olimpíada de Atenas, sendo, até os dias atuais, um esporte olímpico.
A modalidade também integra as cinco praticadas no pentatlo moderno, outra disputa incorporada ao programa olímpico. E foi justamente esse um dos motivos da transferência do mestre d’armas Daniel Gonçalves do Rio de Janeiro, onde fez o curso para obter a graduação máxima na esgrima, para o Recife. Na capital pernambucana, ele passou a trabalhar com Yane Marques, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, e com os demais pentatletas que são destaque no Estado. Durante os treinamentos realizados por Daniel junto aos competidores de alto rendimento, vez por outra, surgiam curiosos interessados em aprender as técnicas do jogo de espadas. “Não era frequente, mas surgiam curiosos, sim. Aliado a esse interesse, sempre tive vontade de difundir a prática da esgrima aqui. Foi então que surgiu a oportunidade de conduzir a escolinha no Náutico e vem dando supercerto”, contou Daniel.
Depois de aprender sobre a história da esgrima, os alunos iniciantes ficam sabendo qual é a forma correta de segurar a espada e sobre suas divisões. O primeiro movimento ensinado por Daniel aos novos esgrimistas é a posição de guarda, considerada a melhor para realizar movimentos de ataque e defesa, assim como nas demais artes marciais. “A palavra marcial deriva de Marte, que é o deus da guerra. Por esse motivo, a esgrima é, sim, considerada uma arte marcial. Não pode, porém, ser entendida como uma luta, pois é necessário haver contato corpo a corpo para isso”, explicou.
Durante os treinos, o uso do traje de esgrima é obrigatório (veja quadro ao lado). Os alunos, entretanto, não precisam adquirir os equipamentos em um primeiro momento, podendo alugá-los na própria escolinha. Existem vários planos mensais para as aulas, com valores que oscilam entre R$ 70 e R$ 120.