Em Vicência, siga o rastro doce do açúcar

Engenhos Jundiá, Poço Comprido, Iguape e Água Doce apresentam a visitantes peculiaridades arquitetônicas e culinárias do Estado
Bárbara Buril
Publicado em 21/02/2013 às 12:35
Engenhos Jundiá, Poço Comprido, Iguape e Água Doce apresentam a visitantes peculiaridades arquitetônicas e culinárias do Estado Foto: Bárbara Buril / Especial para o JC


 

VICÊNCIA – Sobremesas muito doces saboreadas, após o almoço, por filhos de uma família patriarcal: cena mais do que comum no cotidiano dos recifenses. É praticamente impossível entender a sociedade pernambucana sem levar em consideração a nossa herança cultural açucareira, acumulada por séculos nos tachos e nas costas de quem não era o senhor da casa-grande.

No entanto, apesar de falarem muito sobre o presente, os engenhos de Pernambuco ficam no passado para a maioria das pessoas. Pouca gente sabe, por exemplo, que em Vicência, na Zona da Mata pernambucana, eles estão abertos à visitação. Lá, é possível apreciar os móveis e pratarias de época do Engenho Jundiá, experimentar o licor de banana do Engenho Água Doce e admirar a arquitetura do Engenho Poço Comprido. A acomodação fica a cargo do Engenho Iguape.

Na terra dos engenhos, como é conhecida a cidade de Vicência, situada a 87 km do Recife, são diversas as opções de lazer para quem curte turismo rural e histórico. No Jundiá, os proprietários Zélia e João Correia de Andrade se encarregam de contar as histórias de uma das famílias mais tradicionais de Pernambuco.

Passeando pela casa, Dona Zélia apresenta o antigo mobiliário do século 19, mostra as pratarias guardadas com o passar do tempo e tenta estabelecer os laços de parentesco entre as pessoas das fotografias espalhadas pela casa-grande. Em uma das paredes, a foto emoldurada do renomado geógrafo Manuel Correia de Andrade, irmão de João. Foi no Jundiá onde nasceu um dos mais importantes pensadores da questão agrária no Brasil. 

Pelo engenho, que não mais produz açúcar, Dona Zélia apresenta a casa de purgar, onde o produto era branqueado e separado da versão mascavo, considerada de menor qualidade na época colonial. “João que sabe explicar melhor porque aqui é tão escuro”, confessa Dona Zélia, em tom de informalidade.

O mistério da escuridão das casas de purgar pelos engenhos de Pernambuco também não é esclarecido por ele: “Há muita controvérsia, mas tenho a impressão de que é para proteger o açúcar de chuvas ou para dificultar o acesso de ladrões. Mas não posso dizer com certeza”, conta. 

É, aliás, o tête-à-tête que deixa o passeio mais prazeroso. Diferentemente das viagens escolares, em que a precisão histórica é essencial, a conversa com Dona Zélia e Seu João é mais íntima. Cativa porque deixa entrever os antigos hábitos da família e o afeto do casal.

Depois do longo passeio pelas dependências da casa-grande, é servido o almoço com quantidade e qualidade dignas de banquete: as típicas iguarias pernambucanas. Galinha cabidela, galinha guisada, lombo recheado com farofa de ovo, acompanhadas por feijão verde e arroz branco são alguns dos quitutes.

Na sobremesa, muita carga no açúcar. Cascas de limão cristalizadas, doces de banana e laranja e o bolo grude. Não negam a nossa herança açucareira. Para encerrar, um cafezinho com açúcar. 

Confira a matéria na íntegra no caderno de Turismo desta quinta-feira.

 

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