O casal de mineiros Renato Weil, 45 anos, e Glória Tupinambás, 34, percorre o País em um motorhome. Desde dezembro do ano passado eles deixaram Belo Horizonte para desbravar estradas e paisagens brasileiras. Batizaram a empreitada de A Casa Nômade. Já passaram pelo Sudeste, Sul e Nordeste. Visitaram 16 Estados dessas regiões. Até dezembro seguirão pelo Centro-Oeste. Terminam 2016 na Patagônia argentina, de onde partirão para uma viagem por 15 países das três Américas, numa jornada que deve durar quatro anos.
Os 30 mil quilômetros marcados na Mercedes-Benz Sprinter 515, que virou moradia da dupla, foram registrados no Recife, onde Renato e Glória estiveram mês passado. Para transformar o veículo em casa foram necessários cinco meses. Toda a adaptação do automóvel foi acompanhada de perto por Renato na capital mineira.
Dentro de uma cabine com menos de 10 metros quadrados cabem cama, armário, guarda-roupa, geladeira, fogão e banheiro. “Preferimos adquirir a Sprinter e adaptá-la, em vez de comprar um motorhome pronto. Além do investimento ser menor, montamos do jeito que queríamos”, explica Renato. Gastaram R$ 100 mil mais R$ 60 mil para transformá-lo em residência móvel. Segundo ele, a despesa seria de R$ 300 mil se tivessem comprado o motorhome.
“A geladeira, o fogão e colchão trouxemos da nossa casa de Belo Horizonte. É bom porque se quisermos, no futuro, vender o carro será mais fácil pois dá para desmontar”, diz Glória. Os armários têm travas para evitar que as portas se abram com o balanço do automóvel. Os pratos são guardados com calço feito com isopor. “Tudo tem que ser bem guardado porque se passamos por uma estrada de poeira, entra na nossa casa. E não tem lava-jato que resolva”, diz Glória.
Para que dentro da cabine o calor não seja insuportável, Renato optou por usar o mesmo material utilizado em câmaras frigoríficas. O baú é revestido com alumínio, isopor, compensado naval e fibra de vidro. A água usada pelo casal vem de duas caixas d’água que somam 500 litros, quantidade que dá para mais ou menos uma semana. Para enchê-las novamente, eles dependem da boa vontade de moradores e comerciantes que abrem suas torneiras.
A água quente do banho é obtida com gás. Como o banheiro é muito pequeno, a privada é desmontada para dar lugar ao chuveiro, que fica acima dele. Uma placa de energia solar garante o funcionamento da geladeira, de três lâmpadas, do computador, dá para carregar o celular e faz a bomba d’água (igual a usada em barcos) funcionar.
A máquina de lavar roupas fica num compartimento do lado de fora do carro. Esse eletrodoméstico e o ar-condicionado são abastecidos com energia elétrica. Só são usados, portanto, quando Renato e Glória param em algum lugar com tomada.
Por precaução, eles têm um gerador que até hoje não precisou ser ligado. Como trafegam em estradas que não são asfaltadas, uma moto, guardada numa “garagem” que fica abaixo da cama do casal, garante a mobilidade em vias de terra.
A ideia de ganhar o mundo em um motorhome surgiu depois que Renato e Glória passaram um ano e meio viajando por 33 países, de maio de 2012 a novembro de 2013. Em uma década de vida em comum – os dois se conheceram em um jornal mineiro, onde Glória era repórter e Renato, fotógrafo – visitaram 59 países dos cinco continentes.
“Além de tornar as viagens mais baratas, temos mais liberdade usando o motorhome. Fazemos um planejamento, mas podemos ficar mais ou menos tempo em cada lugar. Se a vizinhança ou o local é bom, permanecemos mais. Em alguns lugares fechamos parcerias e ficamos hospedados em hotéis”, explica Glória.
No mapa do Brasil, os Lençóis Maranhenses foi o ponto mais ao Norte que a dupla esteve a bordo da residência móvel; ao Sul, o município de Torres, no Rio Grande do Sul. De Pernambuco, o casal se derramou em elogios para a Praia de Carneiros, no Litoral Sul (distante 104 quilômetros do Recife). Na capital pernambucana, estacionaram o veículo na Rua da Aurora, um dos cartões postais da cidade, no Centro.
Quando estão em cidades grandes, eles optam por parar o veículo em pontos que tenham movimento e garantam segurança. No caso do Recife, por exemplo, o carro ficou perto do Banco Central. Não gostam de pernoitar perto de postos de gasolina porque são barulhentos. Curioso é que em muitos interiores são confundidos com vendedores.
A Casa Nômade tem patrocínio da rede de combustíveis Ale. A Mercedes-Benz garante manutenção e revisão da Sprinter. “Nosso quintal é o mundo. Embarcamos um no sonho do outro. Aprendemos muito, conhecemos lugares e pessoas incríveis”, resumem os inquietos viajantes. Acompanhe-os no www.acasanomade.com.br.