A detenta trans Suzy Oliveira foi entrevistada pelo médico Drauzio Varella no Fantástico, reclamando que nunca recebeu visitas em oito anos presa e relatando a rotina de violência dentro da cadeia.
A repercussão foi tão grande que o médico teve seu nome levantado nas redes sociais até para ser Presidente da República. Um caso claro de carência eleitoral profunda.
A entrevistada, que passou oito anos sem visitas, recebeu em curto espaço de tempo, mais de 230 cartas, várias bíblias, envelopes e canetas para responder cartas.
Logo em seguida, foi revelado que ela foi presa porque estuprou e matou uma criança.
Tudo se transformou. A empatia virou ódio, a caridade virou arrependimento. De repente, o médico virou escória, sendo criticado por ter “abraçado um monstro”, imagina que "queria ser Presidente da República".
A detenta está cumprindo a pena, o médico estava fazendo o trabalho dele e nunca quis ser candidato. O foco desse texto não é quem é inocente ou quem é culpado, mas a caridade seletiva e a empatia interessada.
Caridade seletiva não é caridade e empatia interessada não é empatia.
O lugar onde a palavra “inocente” costuma ser mais repetida é o presídio. O lugar onde a palavra “pecado” acaba sendo mais pronunciada, na verdade, é a igreja, aonde se vai para tentar expurgá-los e aprender sobre como não repetí-los.
Quem se solidarizou com a situação da detenta Suzy e depois se arrependeu por achar que ela não merece, ainda precisa ir muito à igreja para aprender que caridade de verdade é um ato solteiro de qualquer julgamento.
Quem sentiu empatia pelo ato original do médico Drauzio e defendeu que ele fosse até Presidente da República por causa disso, precisa ir à igreja pelos mesmos motivos do primeiro grupo, mas também precisa de psicólogo.
Carência eleitoral é algo muito danoso a um País.