A entrevista de Michel Temer, neste domingo, na coluna do Estadão, lembrou o tempo em que havia serenidade na Presidência da República. Eu sei que muitos vão criticar essas primeiras palavras e xingar tanto a mim, quanto ao ex-presidente. Tudo bem. Estamos acostumados, eu e ele.
Mas é verdade. Michel Temer (MDB) é um ex-amor daqueles que só depois de um tempo você percebe que era feliz e não sabia. Dizer que ele era honesto é difícil, embora não haja condenação contra ele, nenhuma.
Dizer que ele era popular, também, seria flertar com a mentira. Mas, ao menos, tínhamos alguém com perfil de líder e com entendimento da própria cadeira. Mais, tínhamos alguém que não ignorava o óbvio nas crises.
O vampirão, como alguns o chamam, passou menos de três anos, enfrentou crises sérias também. Para quem não lembra, incentivados por um movimento que depois veio se mostrar bolsonarista, caminhoneiros tentaram parar o Brasil.
Temer negociou o quanto podia, até perceber que não adiantaria e mandar o Exército para "convencê-los”. Complementou a pressão militar com medidas benéficas aos motoristas, como redução no preço do combustível.
Resolveu.
Colocado assim em poucas linhas, parece coisa básica, mas é parte de qualquer manual de gerenciamento de crise: primeiro você tenta pacificar o problema maior, negocia. De um lado exerce pressão da força, do outro oferece benefícios para desarmar os ânimos.
O lema do Exército Brasileiro, aliás, diz muito sobre isso: “Braço forte, mão amiga”.
Há quem diga que lidar com um vírus invisível é muito mais difícil, assim como a fome que decorre dele também ninguém pode ver.
Mas, quem disse que o coronavírus é invisível? Basta olhar as pessoas doentes, basta olhar os gráficos, basta olhar os caixões, os caminhões transportando cadáveres na Itália, as dezenas de mortos já no Brasil. Invisível para quem?
Da mesma forma, a fome e a recessão são bem visíveis e não é necessário nem dizer como ela se materializa.
Infelizmente, nessa guerra, um problema cresce no enfrentamento do outro. Se isolar para combater o vírus, aumenta a fome. Se aproximar para combater a fome, espalha o vírus.
Então, ataca-se a fome com alimento e ataca-se o vírus com isolamento. E só o Poder Público instituído pode promover essas duas frentes de batalha organizadas.
Se você leu até aqui, deve estar se dizendo: isso é óbvio.
É verdade.
Tão óbvio que Michel Temer, na entrevista ao Estadão, disponível no JC deste domingo, repetiu a necessidade dessa mesma linha de ação. Temer é óbvio, a OMS e o ministro da Saúde são óbvios, até o vice-presidente Mourão é óbvio. Bolsonaro, até agora, não.
E está provado em outros países que o óbvio preserva vidas.