A entrevista coletiva do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, hoje no fim da tarde, deve ser a mais esperada desde que começou a guerra contra o coronavírus. Não porque temos algum grande assunto sobre o vírus, alguma vacina ou porque o número de mortes cresceu muito. Nada sobre o tipo de combate. Não é uma entrevista esperada porque será anunciada alguma solução para as pessoas que precisam ficar em casa para sobreviver e podem sofrer sem comida por ficar em casa. Não é sobre como e quando o governo vai começar a liberar o dinheiro para essas pessoas se alimentarem.
A expectativa da entrevista é só por causa de Bolsonaro. Uma pessoa. Um personagem. Um presidente. Nada além disso.
Fosse uma guerra tradicional, com uma frente de batalha de fuzis e tanques de guerra, é mais ou menos como se ao invés de discutir-se a efetividade de um ataque ou as defesas das nossas cidades, o grande assunto fosse a roupa do general, que não está no tom de verde que ele gostaria e ele se recusa a atacar enquanto não conseguirem um tom de roupa que o agrade.
Porque o assunto dessa coletiva, infelizmente, será como Mandetta reagirá ao passeio de Bolsonaro que saiu, no domingo, para andar no comércio do DF e fazer fotos com a população, desafiando o ministro que 24h antes havia dito que se ele saísse, se fosse andar entre as pessoas, seria obrigado a criticar o presidente. E o presidente disse que seria obrigado a demití-lo.
Bolsonaro, que não está preocupado com os mortos e deixou isso muito claro na entrevista que deu logo depois do passeio, afirmando que "todo mundo vai morrer um dia”, resolveu fazer o desafio porque, claramente, quer demitir o ministro que tem sido uma voz racional no governo e, por isso, dissonante.
Mandetta o criticará? Mandetta vai relativizar? É importante saber. É importante entender. Bolsonaro o demitirá? É importante também. Mas o presidente da República, que nem general é, poderia parar de se preocupar com o tom de verde de sua farda ou com a pose nas fotos.
Tem gente morrendo. O assunto deveria ser esse.
E o trabalho do presidente deveria ser evitar isso.