A Cloroquina cura a covid-19 ou o organismo reage e combate o vírus, independente do remédio. A Cloroquina também pode curar o governo de Jair Bolsonaro ou Jair Bolsonaro pode para de falar bobagem e o governo se cura sozinho, independente do remédio.
Para a primeira situação, somente a Ciência terá uma resposta.
Para a segunda situação, basta um pouco de bom senso.
O jardim das teorias de conspiração é muito vasto e variado. Não surgiu agora, mas causa prejuízos como nunca. “Vacinas são feitas para dar dinheiro à indústria farmacêutica”. “Tal doença foi criada por tal país, porque eles vendem a cura”. Já cheguei a ouvir algo que era mais ou menos assim: “as torres do sinal 5G para os celulares estariam transmitindo o coronavírus na Europa. Um plano Chinês para dominar o mundo”.
Parece maluco demais para que alguém acredite? Pois, no Reino Unido, cinco torres de celular chegaram a ser incendiadas pelos cidadãos.
A bula da Cloroquina tem uma lista de efeitos colaterais variada que inclui até a possibilidade de deixar o paciente cego. É melhor correr o risco de ficar cego do que morrer, como calculou um médico, recentemente, numa entrevista da qual participei? É, claro.
Melhor ficar vivo.
Mas, e se o paciente ficar cego ou tiver qualquer outro problema e depois se descobrir que a Cloroquina, na verdade, não tinha nenhum efeito e quem melhorou teria melhorado sem precisar do remédio, de qualquer forma? Ainda vale a pena ficar cego?
Porque essa é uma das possibilidades. A Fiocruz tem resultados preliminares mostrando que 13% dos pacientes que utilizam o medicamento morrem. A taxa é quase a mesma, respeitada a margem de segurança, dos que morrem sem usar o medicamento (18%).
Não é possível afirmar que ela cura, mas também ainda não é possível afirmar que ela é nula. Por isso os estudos precisam avançar. Podemos torcer, rezar para que o medicamento ajude. Pessoalmente, podemos fazer isso. Mas não dá pra atropelar a Ciência.
E quando um Presidente da República vai em rede nacional defender o medicamento, por mais que tente usar as palavras corretas, como fez no último pronunciamento, acaba gerando uma esperança que pode ser frustrada no final.
É preciso ter responsabilidade. Usar a esperança das pessoas para conseguir apoio político tem sido comum há muitos anos no Brasil. Bolsonaro não inventou a prática, como bem sabemos.
Mas, está na hora de parar.
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