Mandetta sabe que vai ser demitido, mas quis dar uma cartada final e tentar ficar ao máximo ao lado do paciente. A entrevista ao Fantástico foi calculada, não por ele, apenas, mas pela cúpula do DEM em Brasília e em Goiás, o Estado dele.
A entrevista foi dada no Palácio do Governo onde trabalha o governador Ronaldo Caiado (DEM). Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM) conversaram antes com ele. A promessa é de fortes emoções, e tensões, se Bolsonaro resolver mandá-lo embora.
Também não foi a toa que Mandetta "deu a real” e conduziu a entrevista com suas falas mais duras. É que, minutos antes, Bolsonaro entrou numa live, no SBT, no horário do famoso Programa Sílvio Santos, para dizer que “esse vírus aí, tá enfraquecendo, e o problema agora é a economia”.
Bolsonaro deu, segundo o Ibope, 9,5 pontos de audiência.
Mandetta, logo depois, afirmou que o ápice da tragédia ainda se dará entre maio e junho e que a população precisava ficar em casa. Comparou Bolsonaro com um diabético que o médico diz não poder comer açúcar e ele assalta a geladeira para comer um doce. Disse que não dava para "as pessoas" ficarem indo em padarias, provocando aglomerações, sem citar Bolsonaro, mas com o mundo todo sabendo que o presidente tem ido em padarias quase todo dia para desafiar as medidas recomendadas pelo ministro.
Mandetta, na Globo, deu 25 pontos, segundo o Ibope.
Na manhã seguinte à entrevista, deputados da base de apoio a Bolsonaro pediam a cabeça do ministro. “Mandetta tem que ser demitido”. Mas, não é tão simples.
O que o ministro e a cúpula do DEM fizeram foi jogar a realidade na cara dos brasileiros. Entre outras coisas, Mandetta disse que o pior ainda está por vir até junho, que os testes não estão sendo feitos com todo mundo e que o número de casos no Brasil está subdimensionado, ou seja, tem muito mais gente doente do que se imagina e ninguém sabe, porque o País não tem como testar todo mundo.
Fora os atrasos nas confirmações das mortes. Tem gente que morreu pelo coronavírus no mês passado e só está sendo confirmada agora, porque o resultado demora. Tem muito mais vítimas fatais hoje do que mostram as estatísticas.
O caos ainda não chegou. E a entrevista de Mandetta foi um desafio. Algo como, "mande-me embora e assuma as consequências que serão desastrosas. Quer assumir?"