O desemprego maior no Brasil está por vir e não será culpa da pandemia

Brasil precisa começar a atuar em três frentes, com urgência: Educação voltada para a inovação e tecnologia, programa de renda mínima para desempregados e redução dos custos para contratação de mão de obra. Ou estaremos perdidos
Igor Maciel
Publicado em 26/06/2020 às 12:50
RESULTADO Queda registrada no Estado no mês de agosto foi de 12% Foto: STR/AFP


O Brasil precisa começar a pensar, de forma séria, em um programa de renda mínima que seja ainda mais abrangente do que o Bolsa Família. Não se trata de esmola, mas planejamento para um futuro que teve sua chegada acelerada e vai impactar cada vez mais no mercado de trabalho.

Antes da pandemia, a preocupação com o baixo investimento do País em inovação e tecnologia, já preocupava. Para se ter uma ideia, a previsão de investimento dos EUA, com o objetivo de manter a liderança em inovação, era de US$ 533 bilhões.

No caso da China, o objetivo é alcançar os EUA até 2025 e, para isso, estão sendo investidos US$ 280 bilhões.

A Alemanha quer se tornar referência em fábricas inteligentes e está investindo US$ 105 bilhões no setor.

O Japão estão investindo US$ 140 bilhões para desenvolver robôs que vão substituir a mão de obra em alguns anos.

O Brasil? Bom, dados da CNI indicam que o Brasil pretende investir US$ 20 bilhões, até 2027, em inovação. Mas, se o valor preocupa, o objetivo preocupa mais. O investimento brasileiro vai acontecer na digitalização. Ou seja, outros países investem muito mais em níveis muito mais avançados de tecnologia. Nós ainda estamos tirando dados do papel e colocando no digital.

Há quem acredite que essa robotização da mão de obra não vai atingir países como o Brasil, que não investem suficiente nisso. É um grande engano. As empresas que estão nos países em desenvolvimento hoje, mas têm sede nos EUA, por exemplo, vão retornar pra lá, já que não vão mais precisar de mão de obra humana de baixo custo.

Ao mesmo tempo, os robôs produzidos no Japão e utilizados na Alemanha, começarão a ser importados pelas indústrias brasileiras, que começarão a demitir trabalhadores brasileiros também.

A massa de desempregados nos próximos anos será muito maior no Brasil. E não há como lutar contra a tecnologia num mundo globalizado. E não há como se isolar desse mundo, como se pretendêssemos ser uma ilha. Isso nos atrasaria ainda mais.

O Brasil, porém, já está muito atrasado. O investimento em educação voltada para essas tecnologias é essencial, uma necessidade vital para a solução de longo prazo. Mas não vai resolver o curto e o médio prazo.

A massa de desemprego vai gerar problemas sociais imensos em alguns poucos anos. Tivemos presidentes, todos sem excessão, que se concentraram tanto em resolver os problemas de sua época que nunca olharam para o futuro com a urgência requerida. E o futuro é daqui a pouco.

Esse impacto só poderá ser amenizado com um programa de renda mínima permanente para desempregados. As pessoas precisarão comer, não terão emprego e nem mesmo a informalidade vai salvar porque a tendência é de supressão cada vez maior do trabalho informal já que, através da inovação, todos os espaços devem ser aproveitados com muito mais capilaridade.

Haverá menos brechas para sobreviver sem emprego. E isso pode gerar crises imensas.

Em outra frente, é preciso diminuir, com urgência os tributos em cima do emprego. Quanto mais caro for contratar, menor será o prazo para que indústrias brasileiras comecem a substituir, ainda mais do que hoje, os trabalhadores por robôs. Isso deve segurar temporariamente a curva da desocupação, enquanto o País tenta avançar com a educação já citada.

É claro que isso inclui reduzir os benefícios que os trabalhadores têm hoje também. Não é só o governo que terá de abrir mão. Não é algo para se festejar. Não há o que comemorar com a perda de direitos trabalhistas e outros benefícios. Mas pode se tornar um caminho sem volta.

Os direitos trabalhistas brasileiros são referentes a Era Industrial e estamos, cada vez mais, inseridos na Era Tecnológica, querendo ou não. Lutar contra isso é como tentar enviar e-mail, escrevendo de uma máquina de datilografia.

O problema é que continuamos olhando para os desafios desse futuro próximo como se eles fossem pequenos diante do desafio atual. Enquanto pensarmos assim, estaremos enxugando gelo e, pior, logo haverá tanto gelo derretido que não daremos mais conta.

Enquanto políticos pensam nas próximas eleições, estamos prestes a perder completamente o bonde do mundo.

Se é que já não perdemos.

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