O general Ramos admitiu, em entrevista ao Uol, que se “infiltrou” numa manifestação da oposição recentemente. Na entrevista, ele chegou a dizer que "não se cogita golpe no Brasil, mas a oposição não devia esticar a corda".
Ramos é um caso preocupante no Planalto. Apesar de ser ministro da Secretaria Geral do Governo Bolsonaro, ele segue na ativa, no Exército. Isso o diferencia dos outros militares nos ministérios, porque Ramos acaba representando oficialmente as Forças Armadas, apesar de fazer parte de um grupo político.
Explicando melhor, então, trata-se de um general da ativa, que já deveria ter pedido transferência para a reserva para não comprometer a imagem das Forças Armadas, afirmando que, nas horas vagas, se infiltra entre manifestantes contrários ao governo que ele representa para “observar" as pessoas ali.
É grave porque mistura interesses de um grupo político, manifestações de rua contrárias a esses interesses e, num terceiro ponto, as Forças Armadas que, em tese, precisam servir ao povo e não ao grupo político da vez.
A questão não é apenas a declaração do ministro, que disse ter observado que “eles se vestem de preto porque tem vergonha do vermelho, mas pareciam petistas”, aliás, num tom de preconceito impressionante. A questão é seguir misturando as coisas, brincando de ser governo e de ser general quando convém.
Isso gera conflitos e conflitos geram questionamentos preocupantes.
Ramos foi à manifestação no exercício de sua função no governo ou no exercício de sua atividade militar? Estava armado?
Quando diz, nessa mesma entrevista, que ninguém cogita golpe, mas que "a oposição não deve esticar a corda”, em qual fala ele representa o Exército e em qual fala ele representa o governo? O Exército está ameaçando a oposição? O governo está dizendo que não pensa em golpe? Ambos concordam?
Passou, e muito, da hora. O general Ramos precisa ir para a reserva. Na entrevista ele admite que vai.
Precisa ser logo.