Somente grandes agentes públicos conseguem manter o comedimento tanto no fogo quanto no gelo. Quando o mundo ao redor parece estar pronto para explodir ou quando parece que nada vai fazê-lo evoluir, eles são imprescindíveis.
Nos dois momentos, é preciso manter a calma, pensar, pensar de novo e agir apenas na hora certa. Marco Maciel completou 80 anos nesta terça-feira (21). Conhecendo um pouco dos detalhes na história que trouxe esta República até aqui e, fazendo isso com a devida justiça, desapaixonada, é impossível não comemorar sua contribuição e lamentar que a essência com a qual ele construiu pontes ao longo da vida seja tão rara nos tempos de hoje.
Faltam homens, ao Brasil, com o desprendimento de Marco Maciel. E não se trata de saudosismo bobo. É uma constatação da difícil realidade em que vivemos, na qual interesses pessoais, na melhor das hipóteses, caminham em paralelo com o interesse público, ao invés de serem submetidos à sua própria desimportância, em nome de um futuro melhor para o país.
Em tempos nos quais políticos, ministros e juízes são incapazes de falar por mais de 30 segundos sem comprometer-se pessoalmente por algo, homens como Marco Maciel, hoje afastado do palco político, fazem muita falta.
Havia quem classificasse ele como “o poder discreto”. Parlamentares diziam, brincando, que Maciel era capaz de falar bem por 60 minutos sobre os mais variados assuntos sem dar nenhuma opinião que comprometesse ou dificultasse sua construção política para alcançar um objetivo que fosse importante para o desenvolvimento nacional.
Em uma entrevista concedida para o livro A Nova República, da Cepe, em projeto que envolveu o Jornal do Commercio e o Governo de Pernambuco, em 2005, Marco Maciel contou histórias dos bastidores do processo de redemocratização do Brasil que dão a dimensão de seu sacrifício pessoal pelo bem comum. Detalhes de quando pavimentava vias para o desenvolvimento político do País e procurava protege-lo de quem, já naquela época, militava na corrupção para alcançar cargos.
O "poder discreto", o "artífice do entendimento”. Não termos pessoas públicas, hoje, que podem ser classificadas com adjetivos nesse diapasão preocupa mais do que o centro das crises que vivemos. Porque pessoas assim rendem esperança, cumprindo missões que nem sempre são devidamente reconhecidas, muitas vezes criticadas, mas dirimindo os problemas com eficiência.
A carreira política de Marco Maciel foi construída assim, de sacrifício em sacrifício. De missão em missão, assumindo riscos, sem grandes benefícios em sua trajetória. E foi uma carreira completa, no plano local e nacional, o que mostra que é possível ser íntegro e ter sucesso, fazendo a coisa certa.
O aniversário de 80 anos de Marco Maciel é um dia para relembrar e homenagear, mas o exemplo bem que poderia ampliar-se para a rotina brasileira.
Teríamos um país, certamente, melhor.