Cena Política

Convenções da oposição mostraram que o PSB acumulou dívidas demais e o boleto está sendo entregue

Em dois dias, quatro enormes convenções de ex-aliados do PSB, todos agora contra o PSB, mostram um cenário de isolamento para os socialistas

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 31/07/2022 às 19:29 | Atualizado em 01/08/2022 às 8:19
Beto dlc/JC IMAGEM
MUDANÇA Marília Arraes, Raquel Lyra e Miguel Coelho não eram apenas aliados, eles eram o PSB - FOTO: Beto dlc/JC IMAGEM
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A estética de todas as convenções é como uma caricatura do grupo que está ali sendo oficializado.

Locutores gritando como se estivessem narrando um rodeio ou uma vaquejada, militantes transportados em ônibus, gritando os nomes dos candidatos e discursos guturais, típicos de generais, animando a tropa que em alguns minutos vai à linha de frente desviar de balas.

É meio brega, meio coisa das cavernas, mas funciona pra animar o início dos trabalhos de uma campanha eleitoral.

HERMES COSTA NETO/DIVULGAÇÃO
Convenção de Anderson Ferreira ao Governo de Pernambuco - HERMES COSTA NETO/DIVULGAÇÃO

Se a militância não estiver animada, não tem dinheiro que resolva e muitas candidaturas cheias de dinheiro descobriram isso ao longo dos anos.

Pela convenção, tem-se uma ideia de até onde o candidato pode chegar. Desse fim de semana, com as quatro convenções da oposição, quase uma “Super Terça” da eleição americana transplantada para dois dias pernambucanos, pode-se dizer que todos os protocolos foram cumpridos.

Teve breguice, teve discurso gutural, teve militantes atravessando o estado em ônibus para gritar o nome do candidato, mas ficou claro, principalmente, que todos têm condição de avançar a um segundo turno nesta eleição.

O que, por si, é a primeira derrota do PSB no estado. Os socialistas ainda nem fizeram seu evento, mas já tiveram uma primeira derrota.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Convenção do PSDB e Cidadania oficializou candidatura de Raquel Lyra ao Governo de Pernambuco - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Das quatro candidaturas que se lançaram nas últimas horas, todos os grupos estavam na Frente Popular até Eduardo Campos morrer em um acidente aéreo. Sim, todos.

Anderson Ferreira comandava o antigo PR (hoje PL) como aliado do PSB.

Marília Arraes, Raquel Lyra e Miguel Coelho não eram apenas aliados, eles eram o PSB. Todos foram saindo ou “sendo saídos” por problemas maiores ou menores na condução do partido que entrou em uma guerra interna por poder.

Quem duvidar que o PSB não vive em conflito, procure saber como anda a relação do ex-prefeito Geraldo Julio (PSB) com o governador Paulo Câmara (PSB). A informação, até a semana passada, era que eles nem dividem o mesmo espaço e nem se dirigem a palavra.

Em todo o período pré-eleitoral, o que mais se ouvia era que a oposição iria ter que diminuir o número de candidaturas, porque não dava pra se “esfarelar em quatro palanques para enfrentar a máquina socialista”.

DAY SANTOS/JC IMAGEM
Convenção do União Brasil em Pernambuco, evento em que foram oficializadas as candidaturas de Miguel Coelho para o Governo de Pernambuco, de Alessandra Vieira para a vaga de vice-governadora, e de Carlos Andrade Lima para o Senado. - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Enganou-se quem pensou assim e o engano originou-se na crença de que o PSB estaria unido.

Ao que parece, é a sigla de Eduardo Campos que hoje está esfarelada.

Não haveria quatro candidaturas na oposição se alguma delas não fosse competitiva. E o fato de todas serem competitivas mostra que a soberba obrigou o PSB ao erro de ignorar isso quando afastou esses que hoje são candidatos na linha adversária.

Não cabiam quatro palanques na oposição, mas o PSB fez caber.

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Convenção do Solidariedade lança candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco. - Beto dlc/JC IMAGEM

Um poderia se destacar e os outros seriam meros coadjuvantes, mas o PSB reforçou cada um deles.

Perseguir Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (UB) por serem prefeitos de oposição os fez crescer na adversidade e serem adorados regionalmente por terem vencido na dificuldade imposta por inimigos.

O PSB construiu uma jornada de herói para cada um.

Obrigar Marília Arraes (SD) a trocar de partido duas vezes a transformou num tipo de nêmesis obstinada e armada com a solidariedade popular.

Tentar isolar Anderson Ferreira (PL), como se ele fosse “apenas” um possuidor de voto de nicho, evangélico, no caso, enquanto também o discriminava na prefeitura, o obrigou a ancorar-se num palanque que, se carrega a rejeição de Bolsonaro, também é dos que têm o voto mais resistente e difícil de tirar.

É simbólico que todas as convenções da oposição tenham acontecido quase juntas no fim de semana e que o PSB só faça a sua no dia 5 de agosto.

É apenas calendário e não há nada de especial como fato, mas até isso tem conotação de isolamento.

É natural que o PSB vá fazer uma grande convenção na próxima sexta-feira (5). Vai ser grande, colorida, vai ter discurso gutural com o candidato Danilo Cabral (PSB) gritando pela vitória, vai ter menção a Lula (PT), a corda única na qual resolveram se apegar e descobriram que é de papel, haverá militantes, vai ter tudo que a estética cafona de uma convenção exige.

Mas é certo que o PSB partirá com uma desvantagem. Quatro aliados desprezados viraram candidatos na oposição e os quatro, cada um com sua força, com sua região ou com seu discurso, acabam se complementando.

Desde a morte de Eduardo, o PSB foi comprando no crédito as brigas que achava que tinha força para acumular. Os boletos chegaram, todos de uma vez, num único fim de semana.

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