A lei que Danilo Cabral ignorou e Ciro Gomes que não sabe parar de falar

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (16)
Igor Maciel
Publicado em 16/09/2022 às 0:01
SOCIALISTA Na Frente Popular, Danilo Cabral (PSB) Foto: MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO


Entre os próprios aliados da Frente Popular tem gente muito irritada com Danilo Cabral (PSB). Com o objetivo de atingir Marília Arraes (SD), a campanha do socialista buscou o histórico da adversária e investiu no chamado “orçamento secreto”. Ao dizer que Marília pediu dinheiro das emendas do relator, pretendia conectar ela com o que Lula (PT) definiu como “esquema de corrupção”.

Num primeiro momento, irritou a campanha adversária, mas depois a realidade se impôs. E a realidade é que muita gente da própria Frente Popular também pediu ou recebeu dinheiro do “orçamento secreto” (que nem é secreto de verdade). Rapidamente, apontou-se o petista Carlos Veras como sendo desse “time”. Há deputados do PSB que teriam se beneficiado ou tentado se beneficiar das emendas do relator. Até a prefeita de Surubim, que é prima de Danilo Cabral, teria sido beneficiada pelo tal “orçamento secreto”.

Lei da gravitação Universal

Para muitos aliados, Danilo pegou um balde de sujeira e jogou para cima, tentando atingir Marília, mas esqueceu uma Lei de Newton importante: a da gravidade.

Ciro Gomes

Numa campanha eleitoral, tal como na vida, mais importante do que saber o que falar é saber a hora de parar de falar. Ciro Gomes (PDT) não sabe. O candidato a presidente concedeu entrevista à Rádio Jornal, apresentou números (muitos) com seus planos, fazendo o cálculo de como poderia bancar os custos de cada proposta apresentada. Nada de absurdo nas contas, embora rasas, como se apresentasse solução fácil para problemas difíceis.

Se as ideias são razoáveis, qual o problema? O pedetista sempre se atrapalha na hora de explicar como faria o que diz que vai fazer. Uma coisa é botar no papel e fazer conta de padaria, outra é convencer o Congresso Nacional a receber o embrulho de papel de pão e aprovar.

Acontece que quase todos os planos de Ciro envolvem a necessidade de abrir mão de receitas ou modificar o regime de tributação. Tudo isso precisa passar pelo Congresso. O PDT tem hoje, e seguirá tendo, poucos deputados na Câmara Federal. Ciro não é exatamente alguém que agrega.

Sendo presidente, o cearense não terá facilidades com o Congresso e, até para governar o básico, dependerá de apoio. Na entrevista, quando perguntado sobre como colocar em prática o que propõe, disse que vai "convencer os deputados".

Poderia parar por aí, mas ele não parou. Seguiu afirmando que, se os deputados e senadores não quiserem acordo, irá “convocar plebiscitos e deixar o povo decidir”. Justificando, usou como exemplo a recusa do povo chileno a uma nova constituição.

Chile

Há um erro na similaridade apresentada. Uma carta constitucional tem que ser aprovada em plebiscito, porque já é formatada dentro do Congresso e aprovada pelos parlamentares constituintes. O plebiscito é uma confirmação (ou não) do texto. O que Ciro propõe para o Brasil, diferentemente, é que a população vote sobre impasses do Executivo com o Legislativo.

É como pedir aos filhos que, a cada briga entre os pais, façam uma votação sobre quem eles amam mais, para ver quem vence a discussão sobre jantar chocolate ou tomar sopa. Qualquer plebiscito provocado por um impasse entre Legislativo e Executivo, num sistema como o do Brasil, pode acabar em golpe de estado ou impeachment.

Bolsonaro

Não é por acaso que Bolsonaro (PL) atravessou esses quase quatro anos tendo a possibilidade de fazer plebiscitos para confirmar suas ideias (malucas ou não) e nunca o fez. Porque sabe, ou foi alertado, das consequências de uma ruptura desse porte, usando o voto popular. Se vencesse, não teria força para conter a vingança do Congresso depois e, se perdesse, iria se mostrar tão enfraquecido que o impeachment viria a jato num Congresso que se sentiria desafiado.

Ciro tem boas ideias. O problema é que são peças jogadas sobre um tabuleiro, bem dispostas, mas que não contam com algo básico: o jogador adversário, algo que há em qualquer jogo.

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