Cena Política: O ambiente do segundo turno em Pernambuco beneficia Raquel Lyra

Marília Arraes (SD) terá que lidar com a baixa rejeição da adversária e com os apoios em massa que a adversária vem recebendo
Igor Maciel
Publicado em 05/10/2022 às 0:01
Miguel Coelho (UB) declarou apoio a Raquel Lyra (PSDB), que disputa com Marília Arraes (SD) o Governo de Pernambuco nas eleições de 2022 Foto: Reprodução


Raquel Lyra (PSDB) ter vencido a eleição em Caruaru é normal. Como Anderson Ferreira (PL) ter vencido em Jaboatão dos Guararapes e Miguel Coelho (UB) ter vencido em Petrolina. O surpreendente fez morada no Recife.

E aqui é importante explicar o motivo: o maior trunfo de Marília Arraes (SD) era seu recall na capital. A candidata esteve no segundo turno da eleição municipal de 2020 e terminou a disputa com 43,7%. Isso foi há pouco tempo, dois anos. Já Raquel, antes da campanha, só vinha ao Recife bater à porta de Paulo Câmara (PSB), tentando conseguir verbas para a prefeitura de Caruaru. E quase nunca com algum sucesso.

Como explicar que, esta semana, apesar de toda a exposição, Marília só conseguiu alcançar 18,6% do eleitorado recifense? Ela ficou em terceiro lugar. Foi Raquel quem venceu a eleição na capital, com 24,3%. Se você dissesse, no sábado antes da eleição, que isso poderia acontecer, seria chamado de louco, no mínimo. A candidata que quase foi prefeita do Recife terminou com menos da metade dos votos que teve dois anos atrás e quem venceu foi a ex-prefeita de Caruaru.

O resultado de Raquel, num reduto que deveria pertencer à adversária, é algo que excede a simples surpresa, anunciando talvez o sintoma de algo que ainda está sendo diagnosticado por analistas políticos. O ambiente é diferente de tudo o que se imaginou para esse início de segundo turno. Mesmo quem acreditava que a etapa complementar da eleição seria entre as duas mulheres está percebendo uma diferença do que era imaginado, com vantagem muito forte para Raquel.

Indo para o resto do estado, vale lembrar todas as polêmicas partidárias em que Marília se envolveu, saindo do PSB, e depois do PT, sempre por alguma briga interna e com muito barulho na mídia. Nesses momentos a imagem que ficou dela sempre foi a de injustiçada, levando à solidariedade de um público. Ela é conhecida em todo o estado, pelos entreveros ou pelo sobrenome.

Diante disso, o segundo lugar de Raquel em todo o estado com uma margem tão pequena, tendo liderado a apuração por vários momentos, é um sinal claro de que a força da ex-prefeita de Caruaru é muito maior do que se imaginava. E seu fortalecimento deve acontecer já nesses primeiros dias.

Em menos de 48h ela conquistou uma lista de apoios nos palanques adversários. Um outro sintoma desse ambiente favorável, aliás, é que ela está recebendo declarações até de adversários históricos em Caruaru. O próprio Miguel Coelho (UB) se apressou em declarar apoio quando a apuração ainda nem tinha sido oficialmente encerrada.

Não existe catalisador mais eficiente no mundo da política do que a expectativa de poder. Nem o próprio poder é capaz de concorrer com a possibilidade concreta de alcançá-lo em alguma medida. É o fenômeno que estamos vendo agora.

E a vantagem neste momento não está com Marília.

Pegou mal

O tom usado por Marília Arraes (SD) na entrevista coletiva que deu após o fim da apuração em Pernambuco foi mal recebido. A candidata usou o momento, na divulgação do resultado, para iniciar um discurso de polarização com a segunda colocada, tentando colar a imagem de Bolsonaro em Raquel Lyra (PSDB). É algo natural, já que eleição de segundo turno depende muito do nível de rejeição para conquistar votos. Você tenta aumentar a antipatia do eleitor com o adversário para crescer.

O problema, sério, nisso é que a adversária havia acabado de enterrar o marido, poucas horas antes e nem teve a chance de se defender. Atacar a adversária num momento de luto levantou críticas à neta de Arraes. A insistência em comemorar a derrota do PSB, como um prêmio de consolação próprio por não ter alcançado a votação que esperava. Isso ficou evidente na entrevista que deu à Rádio Jornal no dia seguinte. Foi feio e pegou muito mal.

Ciro com Lula, mesmo?

O PDT declarou apoio a Lula (PT). Foi algo decisivo, direto e unânime. Em seguida, Ciro Gomes (PDT) gravou um vídeo, supostamente, endossando a opção dos pedetistas. Supostamente, porque ele não cita Lula, nem o PT, em nenhum momento e passou mais tempo do vídeo criticando indiretamente os apoiados do que declarando o apoio. No fim, quem assistiu ficou na dúvida. Para o PT, talvez bastasse o PDT.

Ciro podia ter ido a Paris, sem prejuízo a ninguém.

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