Cena Política: O debate de Raquel e Marília com a estratégia do beliscão

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (21)
Igor Maciel
Publicado em 21/10/2022 às 0:01
DEBATE DAS CANDIDATAS MARÍLIA ARRAES X RAQUEL LYRA, AO GOVERNO DE PERNAMBUCO REALIZADO NA RÁDIO JORNAL Foto: RENATO RAMOS/JC IMAGEM


Somente o segundo bloco do debate com as candidatas ao governo de Pernambuco era temático, com o mediador sorteando o assunto que deveria ser abordado nas perguntas. Mas quem ligasse a Rádio Jornal no meio do primeiro bloco acreditaria que havia alguma determinação obrigando Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (SD) a discutir sobre mentiras e fake news.

“Mentirosa” foi uma palavra que se repetiu bastante. Se, no debate da Fiepe, Paulo Câmara (PSB) merecia direito de resposta por ter sido tão citado, no da Rádio Jornal a adjetivação entre as duas mulheres que disputam o governo de Pernambuco poderia pedir cachê. Uma coisa já havia sido percebida no primeiro encontro, quando tiveram que responder perguntas rápidas dos integrantes da Fiepe e agora isso está confirmado: a discussão entre as duas candidatas só é propositiva quando elas são obrigadas.

No quarto bloco do programa produzido pela Rádio Jornal, quando precisaram responder às perguntas de jornalistas sobre seus planos de governo, Marília e Raquel finalmente se dedicaram aos problemas do estado de maneira mais aprofundada. E quase que foi somente ali.

Marília no ataque

Em desvantagem nas pesquisas e com espaço reduzido para crescer, Marília precisa sempre provocar a adversária e produzir material para as redes sociais. Isso acaba desvirtuando a discussão, que deixa de ser propositiva para enveredar por algo entre a ironia e a comédia.

A desvantagem da candidata do Solidariedade impede que ela se dê ao luxo de perder tempo com os problemas do estado? É triste que isso seja uma realidade, mas é.

Pressionada para gerar fatos e frases que possam ser usados contra a adversária, Marília insiste em criar expressões como “Raquelândia”, em referência às realizações apresentadas por Raquel Lyra em Caruaru.

Soa engraçado, gera piadas e tem um tom crítico, dos que fazem sucesso em eleições. De quem reclamava tanto e com seriedade dos gargalos econômicos e sociais do estado no passado, esperava-se mais. Embora seja difícil dizer que ela tem alternativa segura.

A estratégia do "beliscão" é faz parte da sobrevivência de Marília.

Beliscão?

A situação de Raquel Lyra (PSDB) pode ser comparada a de um time de futebol, numa final de campeonato, vencendo o jogo por 2 x 0 e faltando 20 minutos para o apito final. A vantagem é boa, mas basta o time adversário fazer um gol para que o risco de uma virada invada a mente e desestabilize os jogadores “quase campeões”.

Quem passou 70 minutos e não marcou, não terá tempo de virar o jogo em condições normais. Por isso é necessário provocar o adversário, buscar uma falta perto da área ou um cartão vermelho, um pênalti.

Para fazer isso é preciso deixar o adversário nervoso e, aí, vale até beliscão e dedo no olho.

Por isso Marília Arraes tem parecido mais agressiva, jocosa e muitas vezes leva o discurso para os adjetivos. Os debates são a oportunidade para o beliscão, a provocação, para fazer com que a adversária perca a calma.

Se acontecer, Marília terá chances de virar. Quem joga futebol, basquete, jogo da velha ou dominó sabe que não existe vantagem que resista se você não souber administrar suas emoções.

Propostas

Quem estava acompanhando e reclamou da falta de propostas no debate foi o deputado federal Danilo Cabral (PSB), que era o candidato da Frente Popular no primeiro turno e terminou a disputa em quarto lugar.

Pode-se dizer que Danilo fugia de qualquer discussão sobre as gestões do PSB, porque não queria se vincular à rejeição de Paulo Câmara (PSB), mas é errado dizer que ele também não apresentava propostas.

O socialista, como já foi reconhecido aqui pela coluna, era um bom candidato numa situação muito adversa que não foi provocada por ele, mas pelo desgaste do PSB e de seus líderes.

Liberou tudo

Danilo anunciou que fará uma um “tour” pelo estado nos próximos dias para agradecer pelos mais de 800 mil votos que teve. Terá um período sem mandato a partir de 2023 e deveria ser aproveitado pelo partido para uma renovação que não dependa exclusivamente da família Campos/Arraes.

Seria o justo, ao menos. Embora esse tipo de justiça com quem cumpre missões não seja prática da sigla.

Vide o tratamento que Geraldo Julio e Paulo Câmara receberam nas últimas campanhas.

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