O debate da TV Jornal com as candidatas ao governo de Pernambuco terminou sendo o mais proveitoso até o momento, em todo o segundo turno. As candidatas começaram a falar sobre o estado, entre uma briga e outra, o que já é uma evolução.
É de se notar que Marília Arraes (SD) tem pouco tempo para alcançar a adversária. E Raquel Lyra (PSDB) criou uma certa margem de segurança com apoios em todo o estado para resistir até o domingo da eleição.
A coluna adiantou que seria uma campanha em que a deputada partiria para o ataque tentando levar a ex-prefeita de Caruaru ao erro e a maior oportunidade para isso seriam os debates.
A verdade é que isso não aconteceu, até agora. Raquel vem tentando manter a calma e está conseguindo. Quem vem acompanhando os debates pode já ter percebido que Marília tem várias frentes de estratégia e investe nelas de acordo com a situação.
Tentar colar a imagem de Raquel em Bolsonaro (PL) é uma delas. Jogar Paulo Câmara (PSB) como responsabilidade da adversária é outra. A sua própria vinculação com Lula (PT) também faz parte do arsenal. E a suposição de que “Raquel é uma má gestora” completa o menu, usando problemas na Funase, na época em que Raquel era secretária da Criança e Juventude no governo Eduardo.
No programa desta terça-feira (25), usou pouco Paulo Câmara, mas voltou a bater com o assunto da Funase.
Quanto a Lula, chamou a atenção que, nas considerações finais, Marília se lembrou de pedir votos para o petista e esqueceu de pedir votos para ela própria.
Ciente de que não conseguirá os votos dos eleitores de Bolsonaro em Pernambuco, Marília tentou criar uma desconfiança para a adversária. Disse que os bolsonaristas deveriam observar que ela não declara voto em Bolsonaro. Foi quase um pedido pelo “voto nulo” desses eleitores que, claro, teria ela como beneficiária.
Raquel Lyra entrou com uma representação criminal contra Marília, por conta das alegações de que a tucana teria sido responsável pela Funase na época em que rebeliões provocaram mortes na unidade. Na época, Raquel afirma que pediu demissão da secretaria da Criança e Juventude, exatamente porque o governador não deixava ela resolver o problema da Fundação. A ex-prefeita resolveu sair da esfera eleitoral e acionou Marília na Justiça comum, alegando “calúnia, injúria e difamação”. Em resposta, Marília respondeu com uma ação por “falsa comunicação de crime”.
Uma fonte da coluna na campanha de Raquel diz que o processo é um aviso de que a tucana não vai aceitar que se baixe o nível a esse ponto. “Foi uma forma de colocar um limite nos ataques, que extrapolaram o eleitoral e expuseram a dor de terceiros, com mentiras, por causa de votos. Tudo tem limite”, reclamou. Na campanha de Marília, o argumento é de que “Raquel não tem como negar a responsabilidade e resolveu apelar à Justiça”.
Marília só tem mais três oportunidades para tentar uma reversão nos números que hoje dão vantagem à Raquel. São dois dias de propagandas em rádio e TV e um debate, a ser realizado na TV Globo, quinta-feira (27). Depois é trabalhar na rua e esperar o resultado. Nessa reta final, algo muito importante é dinheiro e, nesse ponto, há uma certa dificuldade para a neta de Arraes.
Marília Arraes, em todo o segundo turno da eleição, recebeu apenas R$ 500 mil do próprio partido e R$ 400 mil do Agir, outra sigla que a apoia, totalizando R$ 900 mil. A situação financeira não está fácil. Neste mesmo período, somente o PSDB destinou R$ 3,6 milhões para a campanha de Raquel Lyra.
Todos os dados são do TSE.
O apoio do deputado reeleito Túlio Gadêlha (Rede) à Raquel foi o assunto nos bastidores dessa reta final da campanha. Túlio, principal nome do próprio partido no estado, contrariou a direção da Rede, que havia divulgado apoio à Marília. A decisão de Túlio pelo voto em Raquel é considerada simbólica pela campanha. “É mais um que vota em Lula, mas não está com Marília”, diz um integrante da campanha.