Cena Política: Debate reforçou a ideia de duas opções ruins em um duelo para serem a única opção do Brasil

Confira a coluna Cena Política deste sábado (29)
Igor Maciel
Publicado em 29/10/2022 às 0:30
DEBATE PRESIDENTE LULA E BOLSONARO Foto: MAURO PIMENTEL/AFP


Até domingo passado, quem olhasse para a campanha do segundo turno diria que Bolsonaro (PL) caminhava para a reeleição. Primeiro, há o fator da incumbência. Quem está no cargo leva vantagem natural. Se não conseguir continuar na presidência, será a primeira vez em que isso acontece no Brasil desde que Fernando Henrique (PSDB) mudou a lei e permitiu a renovação de mandato presidencial, em 1998.

Depois, é preciso avaliar que Lula (PT) não teve nenhum fato novo que indicasse um distanciamento dele em relação ao concorrente. Pelo contrário, diversos institutos de pesquisa chegaram a mostrar melhora na avaliação de Bolsonaro. A rejeição dele diminuiu e a personalidade criada pela campanha, que o fazia parecer mais calmo, quase sereno, vinha transformando a opinião pública ao centro para algo mais receptivo.

Aí, veio a frase terrível sobre as “meninas venezuelanas”.

Tentando consertar o absurdo da declaração, que soou como pedofilia, Bolsonaro fez tudo errado. Acordar de madrugada para fazer live explicando piorou a situação, soou desespero.

Logo depois, o ministro Paulo Guedes fala em desindexar o salário mínimo.

Outra crise e Bolsonaro, outra vez, nas cordas. A equipe de campanha nem tinha conseguido apagar o incêndio, quando três policiais federais foram cumprir um mandado contra Roberto Jefferson, no RJ, e acabaram recebidos com 50 tiros de fuzil e duas granadas.

Mais uma vez, a emenda saiu pior que o soneto. O presidente primeiro tentou ajudar enviando o ministro da Justiça. Percebendo o erro, sustou a ajuda e resolveu dizer, ao vivo, que “não tinha nem foto com Jefferson”. Somente estando muito desesperado para se livrar de um problema você diz algo assim. Porque não faltavam fotos dos dois juntos, aliados há bastante tempo.

Logo depois, um ministro e um ex-ministro, dois trapalhões, decidiram fazer uma denúncia contra rádios que não teriam exibido comerciais de Bolsonaro. A ideia era fazer muito barulho e a mídia esquecer o episódio Roberto Jefferson. Por algumas horas funcionou, até que se percebeu que as denúncias não tinham conteúdo, a auditoria contratada tinha falhas técnicas e as “inúmeras” rádios na denúncia viraram quase nada quando o TSE exigiu detalhes. Sendo que algumas delas nem existem mais, há anos. A emenda foi pior que a emenda do soneto.

Fechando o ciclo de tragédias (talvez), Bolsonaro faz um pronunciamento com ares de derrota, cabisbaixo, que transparece pessimismo à própria militância. Toda essa conjuntura era necessária para explicar o que ocorreu no debate desta sexta-feira (28).

Não se trata de um programa solto numa eleição de segundo turno com quase 30 dias. Era a última chance de Bolsonaro tentar salvar a extensão de sua presidência. Mas, o debate da Globo terminou em zero a zero.

Bolsonaro não pode ser condenado pela performance, duelou bem e chegou a ser mais incisivo do que o petista em vários episódios. O atual presidente cumpriu o que precisava ser feito, atacando várias frentes que poderiam aumentar a rejeição do adversário. Fez perguntas espinhosas que colocavam Lula em situação conflitante, como na vez em que foi obrigado a escolher se desagradava o agronegócio ou o movimento Sem Terra durante uma resposta.

Isso, porém, teria grande impacto se estivéssemos a uma semana da eleição. O encontro do eleitor com a urna é amanhã e fica difícil imaginar que haverá tempo para que esse conjunto de pequenos acréscimos de rejeição influenciem um grande contingente de eleitores contra o petista que, se não foi extraordinário, ao menos não foi um desastre.

No mais, para o eleitor indeciso, para aquele que não tem o voto cristalizado, o debate foi ruim, com intermináveis minutos de “você é feio” e “feio é você”.

Não é nada fora do esperado. Aliás, essa campanha presidencial termina do jeito que começou, com dois candidatos que vendem o passado (mais recente ou mais distante) para prometer um futuro que nem eles sabem bem como explicar.

O debate reforçou a impressão de que o eleitor, esse pobre ser humano cheio de incertezas tão concretas que se confundem com certezas cristalizadas, vai às urnas escolher entre duas opções ruins, com uma esperança que nem Freud explica.

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