Ninguém morre em política. Há quem brinque que até quando o sujeito morre de verdade, ele ainda demora a morrer na política.
O presidente eleito é um exemplo. Lula (PT), preso, chegou a ser considerado morto por muitos. A necessidade do PT de sobreviver e a dele próprio deram o resultado das urnas no último domingo.
Eis que ele é presidente da República outra vez, desbancando um concorrente montado no cargo, algo inédito no Brasil. Alckmin é outro que chegou a ser dado como peça fora do tabuleiro, passou a dar entrevistas como especialista em acupuntura na TV local em São Paulo e, hoje, é o homem forte do governo Lula, comandando a transição.
Ao desmontar do imenso elefante que tentou conduzir por quatro anos, Jair Bolsonaro (PL) corre sério risco de isolamento político, sim. Morrer politicamente ele não vai. No máximo, ficará no freezer.
O risco de isolamento existe porque toda idolatria cega acaba vitimando o idolatrado pela própria cegueira de seus adoradores. Explicando: não dá para esperar compreensão sensata de quem lhe segue por loucura insensata.
Um exemplo aconteceu no episódio dos bloqueios nas estradas. As pessoas foram para as ruas, num alvoroço desesperado, acreditando em qualquer informação que chegasse. O momento, porém, obrigava o presidente a ser sensato. Ele, então, pediu aos apoiadores que desfizessem os bloqueios.
Seus seguidores, de imediato, dividiram-se entre os que acreditavam que era alguma senha, algum sinal cifrado para que eles continuassem, ou os que começaram a chamar o presidente de “fantoche” e reclamar que ele se “rendeu ao sistema”.
Todos mostraram que têm fantasias diferentes, mas fantasias. E quando você depende de um apoio popular baseado em fantasias, sua sustentação por um longo prazo, sem o controle de uma estrutura de poder para manter as bases, fica praticamente impossível se manter em evidência.
Bolsonaro ficará isolado, também, por falta de representação política mais sólida no Legislativo, nos estados e municípios.
Você deve estar pensando: como ele está isolado no Legislativo se elegeu uma bancada de quase cem deputados pelo partido dele?
O PL, que hoje abriga Bolsonaro, não é lá um bom exemplo de lealdade e muito menos de sacrifício.
Valdemar Costa Neto já andou conversando com Lula, num acordo para garantir a presidência do Senado daqui a dois anos. Se vingar, o atual chefe do Executivo terá que buscar outra sigla. E o PL o abandona.
Porém, Bolsonaro não morre enquanto o movimento à direita, que ganhou força com ele, existir, porque a vida é feita de ciclos entre crises e num desses momentos difíceis ele pode aparecer como “única salvação”.
Lula renasceu quando foi necessário, para 50,9% do Brasil, livrar-se de Bolsonaro. Sabe-se lá quando e se, no futuro, o país vai precisar de Bolsonaro para se livrar de Lula também.