Quem cria expectativas, assina um pré-contrato com a frustração. Quem conhece a governadora eleita mais de perto não se surpreendeu com a lista de nomes que compõem a transição do governo. O documento foi entregue na tarde desta quarta-feira (09) e dos nove integrantes, quatro são ex-secretários da gestão de Raquel Lyra (PSDB) em Caruaru.
Os ex-secretários municipais de Fazenda, Planejamento, Educação e Saúde estão entre os nomes. O grupo ainda conta com o ex-chefe de gabinete da prefeitura de Caruaru e com a responsável pelas licitações do município quando Raquel era a gestora da cidade.
Completam a lista a vice-governadora eleita Priscila Krause (Cidadania), Manoel Medeiros (do gabinete de Priscila) e Fernando de Holanda (publicitário).
Se, por um lado, era esperado que a governadora preferisse trabalhar com quem ela já conhece e confia nesse momento da construção de um governo, por outro houve quem se frustrasse porque esperava ter alguma voz nessa hora tão importante de tomar pé da situação do estado e fundamentar diretrizes.
Esperava-se, por exemplo, representatividade relacionada a outras regiões do estado, para trazer demandas do Sertão e da Mata.
A ausência de nomes como o de Daniel Coelho (Cidadania) e Guilherme Coelho (PSDB) chamou a atenção.
O exemplo mais próximo de transição, hoje, é o de Lula. Se for observar, nota-se que ele fez questão de formar um conselho político da transição, chamando representantes de partidos aliados, além de grupos temáticos. É algo que poderia ter sido feito por aqui? Talvez, sim.
Por enquanto, posterga-se a expectativa para o anúncio do secretariado na sequência. A ver.
A governadora eleita teve uma reunião, ontem, com a bancada de deputados pernambucanos em Brasília. Foi conversar sobre o futuro e sobre a necessidade de parceria para resolver os problemas do estado.
Ela entregou um texto com as prioridades da primeira fase do governo: conclusão da Adutora do Agreste, recuperação da BR 232 e recursos para o custeio da Saúde. Deputados da atual e da próxima legislatura estiveram presentes.
Danilo Cabral (PSB) e Marília Arraes (SD), derrotados na eleição local, estavam em Brasília, mas não compareceram.
No centrão, mudam-se os fatores, mas o produto será sempre o mesmo. Dentro do jogo de interesses da proximidade com o poder, o sistema dos integrantes desse forte grupo político é cartesiano. Tudo é calculado para dar como resultado a permanência deles como fiel da balança nas principais decisões do país. A foto de Arthur Lira (PP) com Lula (PT), ontem, foi só uma pequena amostra disso.
Felizes e sorridentes, os dois se deram as mãos, como num final de filme clichê do qual já se sabe todo o enredo e a conclusão antes mesmo de entrar na sala de cinema. Lula quer paz com o Congresso, e Lira quer continuar mandando na Câmara.
Bolsonaro (PL) ainda brigou com o centrão por mais de um ano e sofreu muito. Até que, em maio de 2020, no auge da pandemia, ficou acuado pelas mortes da covid, foi acusado de interferir na Polícia Federal por Sergio Moro, percebeu que sofreria o impeachment e tratou de se render. Entregou o governo quase todo ao centrão de Ciro Nogueira (PP) e Arthur Lira (PP).
Agora, é Lira quem se rende a Lula para garantir seu pedaço no poder, chegando até a defender a PEC da Transição que o presidente eleito quer que seja aprovada para garantir suas próprias promessas eleitorais. É a vida.
A necessidade da PEC da Transição, aliás, é o mais puro resultado da PEC Kamikaze que Lira ajudou Bolsonaro a aprovar no Congresso às vésperas da eleição. Foi feito um texto gastando uma fortuna para poder ajudar na reeleição de Bolsonaro. Como deu errado e o presidente não foi reeleito, agora é necessário fazer outro texto gastando outra fortuna para tentar consertar o buraco.
Na prática, é como se alguém fizesse um financiamento para poder comprar um veículo de luxo e, depois de três meses, fosse ao banco pegar um empréstimo para colocar gasolina no carrão.
O grande problema desse país imenso é que dá pra fazer quase tudo por PEC, principalmente estupidez.