A governadora eleita Raquel Lyra (PSDB), na reunião da qual participa hoje, num hotel em Boa Viagem, vai provavelmente perguntar aos deputados estaduais quem estará com ela de verdade no governo. Que tipo de base ela terá próximo a ela, no momento em que precisar aprovar projetos importantes?
Para explicar quem é o “próximo”, numa parábola, Jesus conta a história do homem que foi assaltado e espancado e, pedindo ajuda, foi ignorado por muitos que passavam. Até que um samaritano o avistou, enfaixou suas feridas, limpou com vinho e óleo e o carregou em seu próprio cavalo. A parábola do Bom Samaritano é uma das mais conhecidas na Bíblia.
Nos anos 1980, durante uma entrevista, a então primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, usou a passagem cristã para explicar porque precisava de apoio financeiro no governo: “Ninguém se lembraria do Bom Samaritano se ele só tivesse boas intenções. Ele possuía também dinheiro”. Deu certo, pois Thatcher exerceu o cargo por 11 anos.
Raquel Lyra não espera dinheiro dos deputados, mas gestos concretos que apontem estabilidade e alguma garantia de confiança. A demonstração de que está aberta para o diálogo ela está tentando prover. Sim, porque só a fama adquirida em Caruaru de que não dialogava com o Legislativo explica a formalidade de uma reunião de Raquel, num hotel, com deputados estaduais, imprensa, pompa e circunstância. É algo muito importante, pelas críticas que recebeu na campanha e antes dela, relacionadas à ausência de relação com os vereadores da cidade que governou. Mas, necessita que seja uma constante futura. Será a oportunidade de ouvir e falar, mas não pode ser um evento perdido no calendário da vida.
Será algo frequente?
Raquel poderá, por exemplo, escutar sobre as movimentações do PP para pressioná-la. Uma fonte no PSB adiantou que, pouco depois do resultado eleitoral, um representante do PP já havia procurado os socialistas com um “projeto pronto”. O plano seria o de unirem forças na Alepe, elegendo o deputado estadual Antônio Moraes (PP) e com o PSB indicando um 1º secretário (cargo mais importante depois da presidência). E o objetivo seria tornar a Assembleia uma dor de cabeça para a governadora, de uma forma que ela fosse obrigada a negociar e negociar exaustivamente cada projeto, muitas vezes aceitando ceder cargos por isso.
Como Raquel vai lidar com alguns grupos políticos em Pernambuco, aliás, tem sido objeto de muita curiosidade entre os socialistas que, a propósito, não confirmaram o acordo com o PP até hoje.
Essa reunião será o momento, também, de Raquel dar um indicativo de quem fará a articulação política de seu governo, quem será seu representante nas relações institucionais. O que se tem falado é que Daniel Coelho (Cidadania) estaria sendo cotado para o cargo, na secretaria da Casa Civil. Com todo respeito ao deputado, de imensa capacidade já provada em seus mandatos, será um erro. A articulação política só dá certo quando exercida por alguém que não é político e nem tem intenção de ser. O motivo é até bem simples, os deputados não confiam em discutir assuntos políticos particulares, de seus redutos eleitorais, com alguém que, em alguns meses, poderá ser candidato e lhe roubar os votos.
Todos os secretários da Casa Civil com algum pedigree político ou com intenção de serem candidatos foram praticamente ignorados. Os deputados queriam ser recebidos diretamente pelo governador, porque não confiavam no secretário para falar sobre articulações. Se o seu chefe precisa atender quem você deveria receber, seu salário é um desperdício. No governo Paulo Câmara (PSB), dois secretários de Casa Civil se destacaram. Um foi o atual, José Neto, e o outro foi Antônio Figueira. O que eles tinham em comum? Não eram políticos.
O primeiro nunca foi, nem mesmo, filiado ao PSB, apesar de ter sido cogitado para disputar o governo.
Há quem já discuta, em tom de piada, um calendário obrigatório municipal para manter o prefeito do Recife, João Campos (PSB), no Recife. O gestor da capital é visto com frequência em São Paulo, na companhia da namorada. No último fim de semana esteve no GP de Fórmula 1. Agora, integra a equipe de transição de Lula (PT), em Brasília.
Se o Recife não tiver problema nenhum pra resolver, tudo bem, né?