O fim de ano está sendo de emoções à flor da pele. Para ser presidente, em 2022, é preciso derramar algumas lágrimas. Bolsonaro (PL) chora todo dia e Lula (PT) resolveu chorar também, este durante a diplomação.
O choro é a expressão mais profunda de uma emoção, boa ou ruim, e tem o efeito de uma represa rompendo, inundando olhos e pensamento. E, por isso, é tão difícil enxergar e falar enquanto se chora.
Após o choro, Lula foi obrigado a ler um discurso escrito, porque o raciocínio não permitia mais improvisar. Bolsonaro, também, tem se pautado pelo silêncio quando o choro se expressa. O momento em que vive o Brasil, com um presidente no cargo e outro diplomado, coexistindo, é o símbolo perfeito da convivência entre dois tipos de pessoas, dois tipos de brasileiros que não se entendem há alguns anos, mas não deixaram de ser brasileiros por isso, ambos, embora chorem de alegria ou de tristeza, de alívio ou de preocupação.
Chorar é bom e há quem diga que o choro é o primeiro passo para limpar o horizonte da alma e alcançar o futuro. Mas, chorar em demasia, seja por qual motivo for, denota desequilíbrio. Sabendo disso, Lula pediu desculpas no Twitter depois de ter chorado. Afinal, ele terá quatro anos para satisfazer metade da população que acredita na capacidade dele e a outra metade que sente náusea ao vê-lo com a faixa presidencial.
Não dá pra fazer isso com a voz embargada e, muito menos, chorando.
Por falar em voz, aliás, chamou a atenção a dificuldade do presidente diplomado para falar. Lula fez uma cirurgia na garganta, recentemente, no mesmo local em que teve um câncer há alguns anos.
Não há mais a doença e os médicos tranquilizaram a todos, o que é bom, embora esteja cada vez mais difícil ouvir o que o petista fala.
Para quem sempre reverteu crises com o verbo e com a verba, é preocupante saber que a metade do pacote que dependia dele está falhando.
A outra metade vem dos cofres públicos, abastecidos pelos contribuintes e o centrão deve garantir o acesso, como sempre.
O medo é que, na ausência do verbo, cada vez mais sofrido, a verba tenha que compensar.
O discurso do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, foi também característico de muita emoção, apesar da ausência de choro. Porque a emoção também pode ser expressa com um desabafo. Foram muitas as indiretas a Bolsonaro, referindo-se à desconfiança sobre as urnas que precisou ser enfrentada e vencida na eleição.
A diplomação marca o início do foro privilegiado para Lula e a garantia de sucessão para Alckmin, caso o titular “nos falte” antes da posse.
Mas, para o TSE, marca o encerramento de um dos processos mais tensos que o Tribunal já viveu, com o risco de ver naufragar sua credibilidade.
Moraes fez o discurso de quem grita o que ainda tem para gritar antes de, finalmente, descansar e conseguir ir dormir um pouco. Embora não vá.
Bolsonaro deve sonhar com um momento em que Moraes vá dar um cochilo. Mas, isso não deve acontecer tão cedo.
Bolsonaristas têm se preocupado com o rescaldo de seus incêndios. Moraes, enquanto presidente do TSE, é quem decide quando pautar ações eleitorais que foram apresentadas contra o ainda presidente.
Se vingarem, esses processos podem levar Bolsonaro à inelegibilidade. Sem falar nos processos no STF, no inquérito dos atos antidemocráticos, que podem comprometer o presidente e dois de seus filhos, Carlos e Eduardo. O relator dos processos? Moraes.
Além disso, Xandão, como é conhecido entre os bolsonaristas, pode fazer Valdemar de Oliveira perder o comando do PL, devido aos questionamentos às urnas no fim do segundo turno.
Como foi utilizado dinheiro do Fundo Partidário para a consultoria que “atacou o processo eleitoral”, Valdemar pode ficar em situação difícil e sua salvação seria abandonar Bolsonaro para não naufragar junto.