A vice-governadora Priscila Krause (Cidadania) fez um resumo importante do trabalho da equipe de transição que ela comandou desde o dia 7 de novembro. Apresentou os dados levantados e chamou a atenção com números sobre a saúde financeira do estado.
Segundo o que foi apresentado, em resumo, o dinheiro que está em caixa não garante as obras que foram contratadas neste fim de mandato de Paulo Câmara.
É mais ou menos como comprar uma casa e, só ao receber as chaves, descobrir que no quintal estão trabalhando um pedreiro, um eletricista e um encanador contratados pelo dono anterior depois que a casa já havia sido vendida.
Pior: eles querem receber o pagamento do mês e não tem dinheiro no cofre da casa.
Há, pelo menos, 75 contratos de obras, principalmente de estradas, faltando pagar ainda R$ 1,8 bi que não têm dotação orçamentária. Isso é um problema sério que, se comprovado pelo Tribunal de Contas, pode ter consequências para Paulo Câmara (PSB) no futuro.
Priscila citou como exemplo que o DER tem 39 obras com conclusão prevista para 2023 que demandam R$ 1,2 bi, mas o orçamento total de investimentos do departamento é de R$ 322 milhões em 2023. É algo preocupante.
Como também preocupa que a novela do FEM continue. O fundo criado por Eduardo Campos para incentivar o desenvolvimento dos municípios, que garantiu muito apoio político ao PSB na época, ainda tem débitos de 2014 e 2015.
Falta pagar mais de R$ 200 milhões e só R$ 50 milhões foram colocados no orçamento, pelo governo Paulo Câmara, para 2023. É como se ele tivesse deixado dinheiro para comprar carne, mas o valor nem dá pra passagem de ônibus até o açougue.
A gestão Paulo Câmara terá que fazer algo que representou uma imensa dificuldade nos últimos anos: dar respostas. E o tempo é muito curto. Para todos os questionamentos sobre os maus resultados desses dois mandatos, geralmente, houve silêncio da gestão.
Sempre foi mais fácil ignorar a pergunta do que ter que dar resposta.
Agora tem mais um questionamento: é verdade que o dinheiro em caixa não paga as despesas contratadas para 2023? O silêncio, nesse caso, será perturbador porque é algo que pode ser considerado improbidade administrativa.
Será muito ruim, para alguém que pretende ocupar um cargo no governo Lula. Começar um novo empreendimento na carreira com a marca de ter deixado o governo de Pernambuco sem condições de honrar contratos é algo que não pega bem.
Não é por acaso que, imediatamente, o governo anunciou uma coletiva para esta terça-feira (27), às 11h. E fez isto com uma nota na qual pontuou algo que vem sendo questionado por todos: a falta de diretrizes do novo governo para o futuro, enquanto apontam o dedo para a gestão que, praticamente, acabou.
Período de transição entre dois governos. Um gestor tem a caneta e, quando manda, cria problemas. O outro gestor vai mandar, mas não tem a caneta ainda. Faltando seis dias para a posse de Raquel Lyra (PSDB), essa situação que acaba gerando um certo descompasso na hora de direcionar requerimentos, desde os mais sérios até os mais absurdos. Ninguém sabe quem resolve as coisas.
Sobra para aqueles que estão nos arredores do poder.
Um desses auxiliares, muito próximo de Raquel, recebeu uma ligação nesta segunda-feira (26), enquanto almoçava, com uma cobrança:
- Boa tarde, eu sou barraqueiro aqui em Ipojuca, tô ligando pro senhor pra o senhor ligar pro sargento da Polícia, aqui na cidade, pra mandar ele liberar minha barraca na frente da casa do governador.
- Como o senhor pegou meu telefone?
- É na frente da casa do governador e eu quero colocar minha barraca lá.
- Que sargento?
- O que proíbe de instalar a barraca na praia aqui.
- Amigo, eu não tenho como fazer isso, eu não sei nem quem é o sargento de quem o senhor tá falando. Não posso resolver.
- Mas, o senhor não trabalha com a governadora? Não é quem resolve essas coisas?
- Se é proibido, é proibido. Não pode botar barraca. E a governadora nem assumiu ainda.
- Mas, quando assumir, libera?
- Boa tarde, amigo. Passe bem.
E a conversa encerrou aí.
Agora, imagine isso, multiplicado por todas as demandas do estado, inclusive as que têm lógica.
Os telefones vão tocar muito esta semana, principalmente porque ainda não há nem sinal de anúncio de equipe no governo, faltando seis dias para todos os problemas, inclusive os insensatos, como o da barraca de Ipojuca, caírem sobre a mesa da nova gestão.
A tal “Casa do Governador” é um problema antigo em Ipojuca. O imóvel foi idealizado há décadas para ser um tipo de residência de férias do governador no cargo. O problema é que o espaço quase nunca foi utilizado, por nenhum dos gestores da administração estadual. Hoje, o imóvel está completamente abandonado.
Pouco mais de 16 anos atrás, resolveu-se vender o terreno e isso foi feito. Ou quase. Quem comprou foi um grupo português que iria construir um resort e um complexo turístico com previsão de gerar muitos postos de trabalho, mas os empresários nunca chegaram a depositar o dinheiro, mais de R$ 600 milhões.
É que, antes que o negócio fosse concretizado, famílias invadiram a área. Enquanto a questão das moradias se resolvia, a prefeitura de Ipojuca na época começou a reclamar do impacto que a obra teria e fez todo tipo de confusão.
O governo seguiu brigando para concretizar o negócio e, quando as coisas se encaminharam, a empresa que estava comprando o terreno foi à falência. Fim da história, até agora.
As ruínas viraram atração para quem faz os passeios de Buggy na área, mas é uma propriedade de acesso restrito. Não pode também colocar barraca na praia, que fica em frente. Ipojuca deixou de ganhar um complexo turístico que geraria empregos e ficou com uma mansão abandonada que chama mais atenção pelo que não é do que pelo que poderia ser.
Nada se resolveu e nem há previsão para que se resolva, independente do governador no cargo. O que inclui a situação do barraqueiro querendo trabalhar e do sargento cumpridor da lei e da ordem.