As consequências da camaradagem indevida numa sala repleta de impropérios desnecessários

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (23)
Igor Maciel
Publicado em 23/03/2023 às 0:01
O presidente Lula e o senador Moro Foto: JULIEN DE ROSA/AFP E ISAAC AMORIM/MJ


O problema da camaradagem, quando jornalistas estão entrevistando um presidente da República, é que qualquer absurdo recebe aval automático de todos na sala, mesmo sem a intenção dos repórteres presentes.

Bolsonaro fazia piadas de mau gosto ou dava declarações absolutamente incompatíveis com o cargo que ocupava e a postura costumava ser de desaprovação séria dos jornalistas na sala. Na passagem de 2022 para 2023 o presidente mudou, mas o cargo segue o mesmo.

É incompatível e deveria ser motivo de dura repreensão dos presentes quando um presidente da República diz o que Lula (PT) disse sobre Sergio Moro (UB). Ele só ouviu risadas.

Um colega de redação no JC tem uma regra bem interessante: só chama autoridades públicas de senhor ou senhora, independente da idade que tenham. Pode parecer estranho observar alguém com quase 70 anos se referindo a um prefeito de vinte e poucos anos como “senhor”? Não se você levar em consideração que o cargo do “jovem” em questão tem mais de 130 anos.

O cargo de presidente tem quase 140 anos também. Como está difícil, ultimamente, ter presidentes que respeitam o cargo centenário que ocupam, quem está na sala com eles precisa redobrar o cuidado para evitar as risadas.

Resultado: a cena lamentável com a frase infeliz de Lula acabou ganhando contornos de página policial quando, menos de 24h após a divulgação, a Polícia Federal deflagra uma operação para prender integrantes de uma facção criminosa que estava planejando matar o ex-juiz e hoje senador Moro. Não, a frase não tem nada a ver com as ameaças e Moro não está jurado de morte por causa de Lula. Ligar uma coisa à outra, como está sendo feito nas redes sociais, é oportunismo estúpido.

Mas é o que acontece quando não se respeita o próprio cargo e não se é repreendido devidamente por isso.

Eduardo

Nas redes sociais, o caso foi explorado pela oposição a Lula com tanta amplitude que, especificamente no Twitter, reviveram até as “suspeitas” sobre a morte de Eduardo Campos, quando ele era candidato à presidência da República contra Dilma Rousseff (PT).

O ex-governador de Pernambuco morreu num acidente aéreo, em Santos, em 2014.

Vaias nobres

As vaias ecoaram no Geraldão sem distinção partidária, ontem (22), durante a visita de Lula ao Recife. Priscila Krause (Cidadania) foi alvo e Raquel Lyra (PSDB) também foi alvo, chegando a ser defendida pelo presidente.

Mas, se o evento foi organizado pelo PSB, pode surgir a errônea impressão de que elas foram as únicas vítimas. Acontece que João Campos (PSB) também foi vaiado. Este, pelos professores municipais que aproveitaram o momento para ecoar reivindicações. A categoria decretou greve anteontem.

Só quem não foi vaiado de jeito nenhum foi o visitante ilustre do dia: Lula.

Nelson Rodrigues dizia que “a grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Porque os admiradores corrompem”. Pensando assim, Raquel, Priscila e João estão bem.

Vaias são sempre educativas.

Amistoso

Antes do evento no Geraldão, Raquel Lyra almoçou com o presidente e a comitiva que o acompanhava. Demonstrou relação amistosa com Lula. Aliás, Raquel, Lula, Janja e João Campos chegaram todos juntos.

Antes, a governadora apresentou os filhos ao petista, o chefe do Executivo Federal os abraçou e chegou a conversar com o mais velho por alguns segundos. Lula também conversou amistosamente com Priscila Krause por alguns momentos.

Quando foi questionado por outros petistas, durante a semana, sobre a necessidade de ir almoçar com a governadora de Pernambuco, como fez, ele respondeu que não havia motivos para não ir. “Ela tem sido muito correta conosco”, repetiu a quem lhe abordou.

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