A independência é boa quando tudo está bem, mas quando fica ruim ela se torna péssima

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (6)
Igor Maciel
Publicado em 06/04/2023 às 0:01
Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) Foto: RINALDO MARQUES/ALEPE


Quando os deputados da Assembleia Legislativa aprovarem o projeto que libera a gestão Raquel Lyra (PSDB) para remanejar cerca de R$ 5 bilhões do orçamento, na próxima semana, vai passar a impressão de que ela conseguiu formar uma base na Assembleia e está tranquila para as votações na Casa.

É uma falsa impressão.

Os deputados estão marcando para o mesmo período uma outra votação, aumentando o percentual, dentro do orçamento, das emendas que eles próprios recebem para distribuir nas bases eleitorais. O previsto é que ambos os projetos sejam aprovados, mas há quem desconfie que um depende do outro.

Se o governo trabalhar para evitar a aprovação do texto que beneficia os deputados, haverá consequências no outro. Os deputados estão tentando demonstrar autonomia, mas há quem enxergue isso como algum tipo de desafio.

Quem vem conduzindo a articulação entre a Alepe e o Palácio do Campo das Princesas é o secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça, e a vice-governadora, Priscila Krause (Cidadania). Eles têm trabalhado muito, mas a estratégia usada até agora, de atuar no varejo (parlamentar por parlamentar) e quase ignorar o atacado (grupos políticos e partidários), vai resultando em dificuldades. Não existe uma base do governo, muito menos uma maioria confiável.

A chamada “bancada independente” segue majoritária e trabalha de acordo com a demanda, sem qualquer compromisso com situação ou oposição. Nas gestões do PSB, reclamava-se muito que o governo “andava de trator” no plenário da Alepe. A oposição não tinha representatividade e os projetos do Palácio eram aprovados quase sem discussão.

Os meios pelos quais essa governabilidade era construída podem até ser discutidos. O que não pode, agora, é o Palácio, sob nova gestão, ficar sem base definida e dependente da boa vontade de cada parlamentar que for conversar com a governadora antes de cada votação.

Não é a primeira vez que a coluna alerta para isso. O Palácio e quem cuida da articulação política do governo, precisa meditar sobre o seguinte: uma bancada independente na Alepe só é boa quando é boa.

Quando é ruim, ela pode ser péssima.

Do amor e do ódio

Na pesquisa do Instituto Paraná que entrevistou eleitores do Recife, chama atenção ainda um resquício ativo da polarização da eleição de 2022.

Quando são questionados sobre aprovar ou desaprovar, Lula (PT) tem mais de 60%, mas fica atrás de João Campos (PSB) e Raquel Lyra (PSDB). Quando essa aprovação é dividida (ótimo, bom, regular, ruim e péssimo), o petista fica limitado ao campo do “amor e do ódio”.

Ele é o que tem o maior percentual de “ótimo” (22,7%), mas também tem o maior percentual de “péssimo” (21,9%).

Oportunismo

Após a barbárie cometida por um homem de 25 anos contra crianças dentro de uma creche, em Blumenau, houve quem aproveitasse o momento para defender suas pautas ideológicas, ligando o assassino a algum político ou defendendo até que se as professoras estivessem armadas a tragédia seria evitada.

Como se um assassino, capaz de cometer tal atrocidade, fosse mudar e ser amoroso caso apoiasse outro político. Ou como se ter professoras do jardim da infância armadas de fuzil fosse solução para alguma coisa.

Nas redes sociais, há uma “obrigação de ter opinião sobre tudo”, para manter engajamento, e isso acaba produzindo todo tipo de imbecilidade, digitada por especialistas em coisa nenhuma.

Os laços chineses

Mas já passou da hora de nossos deputados e senadores sentarem seus traseiros nas confortáveis cadeiras pagas pelo contribuinte para conversar com especialistas de verdade e pensar em alguma solução para esses ataques em escolas.

Seria bom que se mexessem, para variar um pouco, já que esse início de ano tem sido um dos mais parados no Congresso, com ritmo de trabalho devagar, quase parando. Esta semana nada acontece porque tem um feriado e, na semana que vem, 35 parlamentares pegam um avião rumo à China para fazer nada.

Desses, seis são pernambucanos. Eles não têm agenda definida por lá. A justificativa oficial é que vão “estreitar laços com a China”. E tudo será pago pelo contribuinte, como sempre.

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