Desde que a coluna antecipou a possibilidade de Raquel Lyra (PSDB) mudar para o PSD, e depois com o partido assumindo uma secretaria na gestão, outros fatos reforçaram a possibilidade de uma migração.
O mais recente foi a ausência da governadora de Pernambuco no encontro nacional dos tucanos que acontece hoje. Raquel viajou esta semana à Brasília, onde acontece o evento, mas já voltou pra casa. Tinha outros compromissos por aqui.
Tucanos à direita
O PSDB está se encaminhando para cerrar fileiras na oposição ao governo Lula (PT) e se fala em lançar uma candidatura com o nome de Eduardo Leite (PSDB) contra o petista já em 2026. Não é do interesse de Raquel fazer esse percurso.
Pernambuco caminhou em compasso de atrito com o Governo Federal nos últimos dez anos. A responsabilidade com o estado precisa ficar acima das questões partidárias quando se está no exercício do cargo.
O PSB teve dificuldade para admitir isso e todos pagaram o preço pelos socialistas.
Reduzidos
Outro aspecto é a proporção do PSDB. A sigla encolheu em 2022 e perdeu expressão no Congresso Nacional indo de 22 para 13 deputados. No poder executivo, fez só três governadores, contando com Raquel.
É por isso que, mesmo sem qualquer tipo de compromisso formal em relação à transferência, aguarda-se uma mudança da governadora para o partido de Gilberto Kassab (PSD) num futuro próximo.
Coelhos
E a conversa entre Raquel e o PSD começou após um movimento, acreditem, de Fernando Bezerra Coelho (MDB). O ex-senador teria chegado a negociar uma filiação em massa de seu grupo para o PSD.
Tudo chegou a ficar bem encaminhado, mas uma condição atrapalhou: “os Coelho queriam o compromisso de que Miguel seria candidato a governador em 2026”. Sem receber essa garantia de ANdré de Paula ou de Kassab, as conversas ficaram congeladas.
É tudo PSB
Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, já não estava confortável com a aliança de seu partido com o PSB em Pernambuco. Segundo uma fonte que conversou com a coluna, o dirigente nunca aceitou o que foi feito com André de Paula (PSD) na eleição de 2022.
Na época, o partido prometeu que ele seria o candidato ao Senado, pediu até para que ele liberasse bases eleitorais para os socialistas e no fim das contas anunciou a candidatura de Teresa Leitão (PT), preterindo o aliado.
A atitude foi vista como muito desleal e irritou o presidente nacional da sigla. “Para Kassab não existe divisão entre o PSB de Paulo Câmara e o PSB de João Campos. Para ele, foi o PSB e pronto. Ele não estava confortável com o PSD na prefeitura”, explicou essa fonte.
E eis Raquel
Nesse momento apareceu Raquel Lyra. A governadora soube das movimentações, estava lendo o cenário sem dar qualquer opinião, mas fez suas contas e agiu quando ninguém esperava. Para quem era criticada por não fazer articulação política, surpreendeu.
Raquel procurou Kassab e também conversou com André. Um acordo foi costurado que agradou a todos.
O PSD perde espaço numa prefeitura e assume uma secretaria no estado, vai operar a pasta que deve gerir os recursos da Lei Paulo Gustavo, algo em torno de R$ 100 milhões, nos 12 editais que terão inscrição aberta esta semana.
Raquel, além de mostrar que sabe jogar bem o xadrez, ainda ganhou uma alternativa partidária. Kassab, inclusive, estaria confiante de que ela vai se filiar em breve.
O PT sabia
O movimento, pelo que se comenta, pode ter preocupado o PSB para além da saída do PSD. Acontece que Gilberto Kassab é uma das criaturas mais pragmáticas da política brasileira atual, ocupando secretarias no governo Tarcísio (Republicanos) em SP e três ministérios no governo Lula (PT), mas não faz nada sem muita conversa e planejamento.
Ninguém vai acreditar que ele afastaria o PSD do guarda-chuva dos socialistas, levando para o campo adversário em Pernambuco, sem ter conversado com Lula antes.
Da mesma forma, é difícil de acreditar que Humberto Costa foi pego de surpresa no processo. Sendo o próprio André de Paula (PSD) ministro, ele não faria nada sem conversar com o PT local antes.
Osso duro
A questão é que se o PT estava sabendo disso e não se opôs, as chances de os petistas cederem a João Campos na construção do palanque para 2024, do jeito que o atual prefeito do Recife deseja, são mais baixas. O PT só aceita apoiar a reeleição de João se tiver a vice garantida. E João, com razão, porque não é bobo, não quer ficar refém do PT caso resolva ser candidato a governador em 2026.
Tem mais
Uma informação adicional: Raquel não encerrou a temporada de articulação política que abriu, para surpresa de todos, na conversa pelo PSD. Já há diálogo sobre outras siglas, hoje na base de João, que podem atravessar o rio nas próximas semanas.