O problema da declaração de Lula (PT), contrariando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sobre a meta fiscal para 2024, não está em dizer que déficit zero não é necessário.
“A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país”, afirmou, abrindo uma crise com a própria equipe econômica.
O problema está no sinal que isso transmite ao mercado.
Lula está certo…
O problema da resposta de Haddad, dizendo que “vai continuar trabalhando pela meta zero”, independente do que o presidente Lula diz, não está na perseguição de uma meta que todo mundo sabe que é irreal.
Porque, sim, Lula está certo quando diz que todo mundo sabe que isso não será possível. O mercado já espera um déficit de 0,2% ou até 0,8% na meta. Então, o drama não está aí.
O problema da fala de Haddad é a certeza de que ele resolveu apoiar sua própria equipe e peitar o chefe.
… mas está errado
Se o mercado já sabia que a meta para 2024 não ficaria em zero e que haveria déficit, por qual motivo a bolsa despencou e o dólar subiu? É que se o déficit já era esperado, uma crise entre a equipe econômica e a presidência não era.
Até agora, o que se imaginava era que os bons sinais dados por Fernando Haddad estavam em sintonia com o chefe dele. Pelo jeito, não é bem assim. A economia entende que se não tiver apoio de Lula, Haddad não conseguirá trabalhar.
Lula erra ao contrariar o ministro. O mercado não está preocupado com a meta de Haddad, mas com o compromisso de Haddad para perseguir o impossível.
O resultado, com déficit, já está precificado por todos. A intenção, como símbolo de responsabilidade dessa gestão, é que não pode se perder.
É mais fácil confiar em alguém que luta para manter a barraca erguida, porque sabe que se abrigar da tempestade é importante, do que em alguém que não acredita em barracas.
Abre espaço…
Se Haddad não puder trabalhar, os petistas com noção de mundo enviesada vencem em sua briga para enfraquecer o ministro da Fazenda no governo, usando um fiasco econômico como argumento. O mercado, essa entidade “gananciosa” da qual se queixa Lula sempre que pode, tem a estranha mania egoísta de querer que o Brasil cresça e tenha as finanças equilibradas. É um “pecado” para boa parte do petismo.
O certo para esses petistas é a canalhice revestida de altruísmo que quebra um país inteiro para enfraquecer um desafeto, apenas para ter mais poder partidário e ainda chama isso de distribuir riqueza.
…à cretinice
Se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perde força na gestão e deixa de contar com a confiança irrestrita do presidente Lula, como pode estar acontecendo, os cretinos fundamentais desse governo, e há cretinos fundamentais em todos os governos, podem dar seus gritos com mais vigor, mesmo que o país perca estabilidade, gaste muito mais do que arrecada e comece a repetir as bobagens feitas nas administrações petistas anteriores.
É um risco que a bolsa já “percebeu”.
Os donos de SP
O PSD elegeu 65 prefeitos nos 645 municípios de São Paulo em 2020. Hoje, após uma série de filiações de olho na disputa de 2024, o partido de Gilberto Kassab tem 329 prefeituras. O crescimento é de 500%.
O PSD tem, atualmente, o domínio total de um patrimônio que já foi do PSDB e sempre serviu de base para que os tucanos disputassem eleições nacionais com um protagonismo de fazer inveja. Isso acabou.
Carcaça
O PSDB é um nanico até dentro de seu habitat e o futuro nacional não agrada e nem anima. A impressão é que Eduardo Leite (PSDB) e Aécio Neves (PSDB), que brigam para ver quem comanda o partido no futuro, estão duelando por uma carcaça cujo brilho já desbotou há muito tempo.
Raquel
É o contexto do PSDB o que transforma a saída de Raquel Lyra (PSDB) da sigla numa certeza quase gravada em pedra. Resta saber para onde ela vai, quando for.
O PDT foi oferecido, mas não será fácil para ela ter o controle do partido em Pernambuco ou ficar dependendo de Wolney e José Queiroz, que controlam a sigla por aqui e com os quais a relação nunca foi muito estável, apesar de ambos serem muito leais politicamente.
Surge aí o PSD.
PSD
André de Paula, que comanda o PSD em Pernambuco, é fácil de lidar e até poderia ficar na presidência da sigla que, ainda assim, sabe-se com certeza, seria leal à governadora, porque é de sua natureza e de sua formação.
A vantagem em relação ao PDT é que André não tem histórico de disputa política com a governadora.
A aposta maior nos bastidores, hoje, é que Raquel ingressa no PSD para se aproximar ainda mais de Lula nacionalmente.
PDT
Mas um acordo deve acontecer beneficiando também o PDT. O partido deixaria a base de João Campos e iria para a da governadora. Em troca, ela pode apoiar um dos queiroz em Caruaru e um outro nome do partido no Recife.
Se isso acontecer, toda a conjuntura eleitoral de 2024 seria alterada.
A decisão enfraqueceria Rodrigo Pinheiro (PSDB) na disputa pela reeleição na Capital do Agreste e abriria um flanco na liderança inconteste, até agora, de João Campos. O PDT, é bom lembrar, ocupa a vice-prefeitura do Recife.