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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

No ambiente partidário brasileiro, ganha aquele que mais odiar o "outro lado"

Confira a coluna Cena Política deste domingo (10)

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Igor Maciel

Publicado em 09/12/2023 às 20:00
O presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro - MONTAGEM/MARCELO APRÍGIO/NE10

O governo Lula é bom, mesmo se estiver ruim. O governo Lula é ruim, mesmo se estiver bom. É um resumo de todas as pesquisas de avaliação e popularidade sobre o Palácio do Planalto neste ano de 2023. E vai seguir assim por um bom tempo.

A polarização política colocou uma bola de ferro com uma corrente na opinião das pessoas sobre a vida que elas estão levando. Em alguma medida isso é benéfico para a população?

Ame ou odeie

Em todos os 12 meses deste ano, qualquer pesquisa sobre o governo Lula (PT) vai apontar para a divisão do público. A diferença pequena da eleição entre o atual presidente e o ex, Bolsonaro (PL), tornou-se uma base para todos os levantamentos.

As pessoas deixaram de ter opinião sobre a realidade. O que vale é amar ou odiar.

O Brasil pode se transformar num paraíso, e metade dos brasileiros vão odiar o governo. O Brasil pode se transformar em uma Venezuela, e metade dos brasileiros ainda vai amar o governo. Esse comportamento de zumbi serve agora para o governo Lula, como também serviu para o governo Bolsonaro.

Às pedras

Não é algo que vai ser resolvido com facilidade porque as pessoas parecem ter perdido a consciência crítica e a capacidade de refazer a trajetória quando o vento muda.

O eleitor brasileiro sobe em um barco com o leme travado e segue na mesma direção, mesmo que vá em direção às pedras. Pior, faz isso com orgulho.

Para completar, os políticos se beneficiam e tentam aproveitar esse comportamento do eleitor brasileiro. “O barco está indo bater nos arrecifes, mas antes deixe aqui o seu voto”, é a tônica.

Episódio local

No Recife, já temos um exemplo dessa última semana. A vereadora petista Liana Cirne apontou para o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado, que anunciou candidatura à prefeitura da capital.

Ela nem havia sido citada, lembrada ou criticada no evento do PL, que teve Jair Bolsonaro (PL) como atração. Mas fez questão de ir às redes sociais chamar Gilson de “bajulador” e integrante da “cúpula suja”.

Respondeu

Uma polarização só se faz com dois lados. Gilson percebeu a oportunidade de crescer no maniqueísmo e escreveu um texto respondendo às críticas da vereadora. “Quem é Liana na fila do pão com mortadela?”, soltou.

A ideia é sempre encontrar alguém que lhe responda para criar uma polêmica e, assim, ambos crescem dentro de suas bolhas.

Detestar é preciso

Um contexto importante: Liana é vereadora e se imagina que será candidata à reeleição. Mas ela também costuma ser citada entre petistas estaduais para a disputa pela prefeitura. Seria um dos nomes possíveis, caso o PT realmente decida não apoiar a reeleição de João Campos (PSB) em 2024.

Essa busca por um protagonismo maior, atacando o candidato bolsonarista, pode ter a ver com isso.

No PT, ganha aquele que mais odiar Bolsonaro? É o que parece.

Pobre Brasil

O triste nessa busca por manter maniqueísmos, coisa que Lula fez com o PSDB durante anos também, é que você acaba vendo ao longo dos anos, políticos que poderiam ter grande potencial e ajudar a renovar, reoxigenar o ambiente partidário e da gestão pública no Brasil, caindo na vala comum dos oportunismos de trincheira.

Nos últimos anos, facilmente você vai lembrar de ao menos um bom nome, de político jovem, que estava despontando como algo diferente e já mergulhou no “bom negócio” de explorar a divisão entre as pessoas.

Pior para o Brasil, como sempre.

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