Destaques e análises políticas do Brasil e Pernambuco, com Igor Maciel

Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

Cada verdade vai encontrar seu destino neste domingo

Confira a coluna Cena Política deste domingo (25)

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Igor Maciel

Publicado em 24/02/2024 às 20:00
O ato é organizado pelo ex-presidente e seus aliados, como o pastor evangélico Silas Malafaia - ISAC NÓBREGA/PR

A política criou um ambiente enviesado para a verdade que prejudica os próprios políticos. Vejam o que ocorre com a manifestação deste domingo convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Há conjecturas e previsões com as mais diversas estimativas de público para o ato. E, na verdade, isso não importa em nada, porque de um lado e do outro já existem argumentos prontos para reforçar ou enfraquecer a realidade, dependendo do ponto de vista.

Tanto faz

A organização fala em 700 mil pessoas. Se apenas 100 mil aparecerem, os bolsonaristas dirão que eram 700 mil e ficarão exibindo fotos que “comprovam” o número. E outros bolsonaristas acreditarão. Da mesma forma, mesmo que 1,5 milhão de pessoas ocupe a Avenida Paulista, os adversários de Bolsonaro, ligados ao PT, aproveitarão qualquer espaço vazio em uma foto aérea para dizer que o evento foi um “fiasco”. Os órgãos oficiais, que podem fazer a conta, dirão que não podem divulgar os números para evitar conflito. Instituições tendem ao contorcionismo político covarde em polarizações exacerbadas.

Verdade líquida

A verdade transformou-se em algo tão fluido que cada um tem a sua para exibir e cada um escolhe em qual prefere acreditar para dormir melhor naquele dia. Admirável é encontrar pessoas no Brasil que ainda não estão cansadas dessa eterna guerra de narrativas coletivamente infrutíferas, que só são verdadeiramente benéficas para os dois lados em disputa e mais ninguém. O máximo que os apoiadores conseguem é um argumento falseado para usar em mesas de bar ou discussões familiares no Whatsapp. O Brasil, em verdade, só perde.

Eles outra vez

Os crédulos inabaláveis, já citados aqui nessa coluna anteriormente, e que são a base eleitoral dos populistas, alimentam-se disso, vivem sedentos por um pouco dessas verdades apaziguadoras para seus espíritos inconformados com a pobreza da realidade de suas próprias vidas. Vão usar cortes das falácias fabricadas nessas ocasiões para ter um pouco de animação em suas discussões, nos momentos em que fingem a própria importância por estarem envolvidos com algo maior que eles.

Numerosos

Os crédulos inabaláveis, estes seres tão numerosos quanto estúpidos, estarão todos de pé, desde cedo neste domingo, a espera das versões de um lado ou de outro para este evento. Estão todos hoje, com suas roupas de festa, ridiculamente perfilados, mão no peito, aguardando uma verdade que lhes imprima alguma felicidade fabricada sob encomenda, antes de terem que enfrentar a realidade da segunda-feira.

Precária

A triste verdade é que toda essa expectativa para acompanhar um ato convocado com o objetivo de apoiar alguém que está sendo apontado pela Justiça como criminoso, em moldes parecidos com o que o PT fez para Lula antes de ele ser preso, em 7 de abril de 2018, diz muito mais sobre a precariedade das nossas instituições democráticas do que sobre força política de A ou de B.

Prejuízo

Sejam 100 mil, 700 mil ou 2 milhões nas ruas, o Brasil vai sair perdendo neste domingo, como perdeu no “evento” da prisão de Lula. Sempre que um evento com multidão é utilizado como subterfúgio para questionar a ação de uma instituição, a democracia perde um pouco mais.

O que vai ficar

Ensina-se, dessa maneira, que não é necessário ser honesto e cumprir as leis, desde que se tenha um exército de crédulos inabaláveis em seu poder para mostrar força nas ruas ou acampados ao lado de prisões. Não é preciso ser ético, desde que uma horda de apoiadores sedentos por verdades agradáveis o sustente como um “mito” ou como uma “ideia”. O Brasil perde

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