O favoritismo do prefeito João Campos (PSB), hoje, é algo difícil de contestar. As pesquisas estão por aí e confirmam uma aprovação alta do trabalho feito por ele até agora, principalmente na periferia. Eleição, porém, é um jogo jogado com muito mais fatores do que aprovação ou reprovação.
Não é só isso
Se ser bem avaliado fosse o único determinante para decidir um pleito, Paulo Câmara nunca teria sido reeleito em 2018, quando tinha mais de 60% de rejeição e Geraldo Julio (PSB) nunca teria feito sucessor em 2020, porque a situação dele era ruim ao ponto de ser quase excluído da propaganda eleitoral.
Fatores
A estrutura de aliados é importante, porque sozinho não se chega longe. A conjuntura das outras candidaturas é importante, porque bastaria ter mais um adversário na campanha de 2018 e Paulo não teria sido reeleito.
Respeitar o eleitor que não é seu também é essencial, porque você nunca sabe quando vai precisar dele. Em 2020, sem os votos da direita, classe média, bolsonarista, João Campos não teria sido eleito prefeito e Marília Arraes (SD) é quem estaria, agora, falando em reeleição.
2020
O atual prefeito do Recife chegou para a disputa daquele ano confrontado por uma desconfiança imensa em relação a sua maturidade para o cargo. Trabalhou bastante para quebrar o preconceito e contou com muitos aliados nisso.
Campos foi para a eleição com uma coligação formada por 12 partidos e com o maior tempo de propaganda entre os concorrentes. Mesmo assim, cortou um dobrado para conseguir vencer e precisou se render ao discurso anti-PT para poder ser eleito. Tudo por causa da conjuntura de candidatos, que é algo que deve ser observado sempre.
Contra o PT
O antipetismo exerce uma força eleitoral no Recife. Mesmo tendo sido governada pelo PT, e com aprovação altíssima de João Paulo (PT) à época, o tempo, a corrupção nacional e as bobagens em série cometidas pelos petistas locais trataram de criar um universo de bolha para o PT na cidade: eles sempre tem um percentual expressivo e fiel nas eleições, mas a rejeição exerce força contrária na mesma medida e eles ficam presos num teto baixo e insuficiente para vencer.
Pelo PT
Apesar da insuficiência, o percentual que o PT sempre alcança nos primeiros turnos é algo que não pode ser desconsiderado. Humberto Costa (PT) teve 17% em 2021, João Paulo (PT) teve 23% em 2016 e Marília Arraes (na época pelo PT) chegou a 27% em 2020.
Tirando 2012 que terminou na primeira votação, o PT sempre foi o partido que obrigou a eleição a ir para o segundo turno. Não é algo que possa ser ignorado por quem tem um mínimo de experiência na área.
Risco
Se o PT não tiver a vice de João, ameaça lançar candidato à prefeitura. Fazendo uma conta de padaria, bem por baixo, se o candidato da governadora tiver algo acima de 15%, o candidato do PT mantiver o mínimo dos últimos anos, entre 15% e 20% e o candidato bolsonarista, Gilson Machado (PL), passar dos 10%, somando ainda os candidatos nanicos, a chance de João Campos ter que disputar um segundo turno é real.
Para quem parte nas pesquisas com 70%, ir ao segundo turno já é um baque. Além de ser um risco desnecessário.
Ação e reação
Se tiver que enfrentar o PT, haverá duas consequências possíveis e que precisam estar no radar da equipe que hoje enche os ouvidos do prefeito com uma empolgação perigosa: a primeira é a possibilidade de ter que ir pro segundo turno. A segunda é a possibilidade de João, no PSB, ter que repetir os ataques ao aliado nacional PT como aconteceu em 2020, em busca de um voto que hoje está com Gilson Machado, por exemplo.
Vale o risco?