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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

Fadiga de material faz governo Lula aparentar 18 anos e não 18 meses

Falta ousadia no governo do PT para enfrentar o próprio PT. Ninguém briga com a realidade e sai impune. Demora, mas o mundo real acaba se impondo.

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Igor Maciel

Publicado em 11/06/2024 às 20:00
O presidente da República, Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). - Sergio Lima

Venho do futuro para dizer que o terceiro governo Lula está num momento crucial de sua trajetória. Se nada mudar, ao anunciar que será candidato à reeleição em 2026, a reação geral e não militante será de olhos voltados para cima, rugas proeminentes na testa e um sopro vazio na boca daqueles que denotam exaustão e impaciência.

O brasileiro estará bem cansado em 2026, porque a gestão Lula está emparedada num labirinto estreito do qual não se sai sem ousadia para enfrentar paradigmas.

Ousadia é artigo em falta no Palácio do Planalto.

O fácil e o difícil

Quando alguém questionava Miguel Arraes sobre os acordos que ele fazia com adversários políticos, o velho governador pernambucano dizia que só dava para fazer as pazes com um inimigo. “Ninguém faz as pazes com quem não brigou”, dizia sorrindo.

Peço licença ao doutor Arraes para usar a mesma lógica na frase seguinte sobre o governo Lula: É mais fácil brigar com o inimigo. Corajoso mesmo é aquele disposto a enfrentar um aliado, em nome do que precisa ser feito. É essa ousadia que Lula e seus ministros não possuem.

Solução errada

É verdade que se espera de Fernando Haddad (PT) que ele equilibre as contas como ministro da Fazenda. E é verdade que todo mundo reclama quando ele tenta fazer isso aumentando impostos.

Isso acontece porque falta ao intrépido petista, e ao chefe dele, um pouco de coragem para enfrentar o próprio partido e equilibrar as contas cortando gastos, ao invés de buscar tudo o que precisa no bolso do pagador de impostos, como bem pontuou a advogada tributarista Mary Elbe Queiroz em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

A solução de Haddad é que está errada, porque ele não tem coragem para enfrentar os aliados do PT na eterna cruzada deles contra a realidade que não os beneficia.

Coragem

Sem coragem para enfrentar a ambição eleitoral do PT, que defende torrar dinheiro em busca de bons resultados na eleição deste ano, será impossível evitar que os embates entre governo e a sociedade civil com juízo se intensifiquem nos próximos meses.

O resultado pode ser terrível para o país, porque é muito difícil recuperar o desgaste profundo de uma relação como essa.

Percepção de tempo

O brasileiro vai cobrar do governo Lula o cansaço que está enfrentando agora, se o atual presidente resolver ser candidato à reeleição.

Todo dia, ao longo dos últimos 18 meses, vão se encadeando crises e mais crises que se resumem à vontade dos petistas para que o governo gaste mais, enquanto a ausência de um equilíbrio fiscal empurra o país num poço de incertezas e desconfianças.

Essa exaustão, já é muito perceptível. Como não apresenta nada de novo, a impressão de muitos brasileiros é que Lula é presidente pela terceira vez há 18 anos ao invés de 18 meses.

O que provoca essa impressão é a fadiga de material. É como se não tivesse como extrair mais nada de inovador da equipe de governo.

Cansaço

Os sinais do que o futuro reserva ao governo Lula estão por aí. A palavra “cansaço” já começou a circular com muita frequência nas conversas de bastidor entre empresários do Nordeste e do Sudeste. Essa observação é corroborada, inclusive, pelo titular da coluna JC Negócios, Fernando Castilho, aqui deste JC.

Gente do comércio, da indústria e do mercado financeiro, incluindo os responsáveis por grandes organizações, que apoiaram a campanha do atual presidente em 2022 para enfrentar a incerteza que Bolsonaro representava, andam com a perspectiva cambaleante e a esperança capenga.

Sem novidade

Um exemplo público foi visto há alguns dias. Recentemente, falando à Rádio Jornal como representante da Confederação Nacional da Indústria, o ex-senador Armando Monteiro Neto, que já foi ministro de um governo do PT, fez duras críticas à atual gestão.

A administração do país, segundo ele, não consegue propor nada de novo e estaria presa às receitas antigas que não se encaixam mais com os problemas que precisam ser resolvidos.

Sem impunidade

Nem precisa vir do futuro para saber que essa corda esticada entre o PT e a realidade acaba mal para os petistas e pior ainda para a realidade. Lula, mantendo a falta de ousadia para enfrentar os problemas do país, se for candidato e vencer em 2026, poderá entrar num quarto mandato com uma sustentação política pior do que era a de Dilma Rousseff (PT) em 2015.

Ninguém briga com a realidade e termina impune. Pode demorar, mas o mundo real, mesmo ferido, acaba se impondo.

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