Convidado a participar da reunião com o presidente da República por videoconferência, o governador de São Paulo, João Doria, começou sua intervenção tentando crescer para cima de Jair Bolsonaro, criticando seu pronunciamento da véspera. Tinhoso, o governador até fez apelo ao “entendimento”, mas tratou de inviabilizá-lo com o discurso político. Sabia que o presidente, pavio curto, não resistiria à provocação. Assim, Doria saiu da reunião como queria: entronizado no posto de “anti Bolsonaro”. A “cereja no bolo” do projeto político-eleitoral de Doria, inaugurado pelo bate-boca, foi a adesão do governador goiano Ronaldo Caiado (DEM).
Ao iniciar sua coletiva logo após a polêmica reunião, ontem, Doria não escondia sua satisfação com o êxito da ação antibolsonarista.
Já a reunião com governadores do Nordeste, hostis a Bolsonaro, ocorreu em clima institucional: entre eles não há pretendentes sérios ao Planalto.
A videoconferência foi essencial. Quem trabalha com Doria duvida que em reunião presencial ele assumisse tom tão agressivo com o anfitrião.
O presidente Jair Bolsonaro não está sozinho na defesa do “isolamento vertical” para combater o coronavírus sem paralisar a economia e provocar quebradeira e desemprego em massa. Além do seu ex-ministro Osmar Terra, que é médico e coordenou o combate à gripe H1N1, que matou quase 800 brasileiros somente em 2019, surgem vozes como Tallis Gomes, empreendedor brasileiro premiado em todo o mundo, que, criador do transporte por aplicativo, ficou bilionário aos 26 anos.
O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), em coletiva ontem, mudou um pouco seu discurso e passou a criticar medidas isolacionistas.
Tallis Gomes adverte que pequenas e médias empresas têm, em média, caixa por 27 dias. Com o isolamento total, todas devem quebrar.
A conta é simples: Tallis lembra que 81% dos empregos no Brasil são gerados por micro, pequenos e médios empresários.
O isolamento social imposto à população tem sido apontado como responsável pela explosão dos casos de coronavírus em países como Itália e Espanha: proibidos de sair de casa, jovens infectados, mas assintomáticos, acabaram contaminando os próprios pais e avós.
O bloqueio insano decretado por alguns governadores pode fazer muito mal. A polícia de Goiás chegou a barrar e atrasou o comboio de caminhões a caminho de Brasília com milhares de vacinas contra gripe.
Com ajuda da embaixada do Brasil em Buenos Aires, um grupo de dez paulistas, oito em motos, já está em casa. Foram tratados na Argentina como criminosos, feitos prisioneiros por três dias, em nome do covid-19.