O governo do Brasil flerta com o perigo: avalia se juntar à Austrália na defesa de “investigação independente” das origens do covid-19 na China. O chanceler Ernesto Araújo conversou demoradamente, sexta (8), com a colega australiana Marise Payne. A ideia ofende tanto os chineses que a retaliação não
tardou: na terça (12), o governo de Xi Jinping suspendeu a importação de carne bovina de quatro abatedouros, dois deles da JBS, e decidiu também taxar a cevada australiana em 76,8%. O governo da Austrália pretende investigar, por exemplo, se a covid-19 foi produzida em laboratório, como acreditam
alguns especialistas. Itamaraty confirma a conversa dos chanceleres dos dois países quatro dias antes das
primeiras retaliações chinesas contra a Austrália. Araújo e Marise Payne, diz o Itamaraty, “decidiram
trabalhar juntos e de modo coordenado para enfrentar os desafios da crise do covid-19”. Hostilizado a cada
frase sobre a China, Ernesto Araújo tem sido aberto a convites como o da Austrália para discutir o país de Xi
Jinping.
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, confirmou a esta coluna
que não tem planos de retornar ao Brasil após deixar em 31 de agosto o mais importante cargo já ocupado
por um brasileiro em organismo internacional.
Azevêdo sairá da OMC com um ano de antecedência, e negou que tenha qualquer pretensão de voltar ao
Brasil para assumir cargos. A tendência é ele se afastar do setor público.
Ele negou também nomeação para cargos no Ministério da Economia ou Itamaraty, como especularam sites
importantes no Brasil.
O diretor da OMC não recebeu qualquer convite do governo Bolsonaro. “Minha única prioridade é organizar
os próximos passos na OMC”, diz.
Roberto Azevêdo descarta qualquer possibilidade de candidatura em 2022. “Não tenho interesse nisso”,
garante o diplomata de carreira.
Antes de anunciar sua saída da direção-geral da OMC, Roberto Azevêdo avisou por telefone o chanceler
Ernesto Araújo e o presidente Jair Bolsonaro. Não queria que o governo brasileiro soubesse pelos jornais.
Não passaram da mais genuína exibição de falsidade os sorrisos e abraços de Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia,
ontem, no Planalto. Eles se detestam, mas chefiam poderes da República e precisam se entender.
O governador do DF, Ibaneis Rocha, aplicou um “pedala” em Ronaldo Caiado, de Goiás, cujo governo negligenciava os doentes de covid-19 do entorno, que, sem opção, lotam hospitais de Brasília. Foi só Ibaneis
ameaçar vedar atendimento que Caiado assentiu com trabalho conjunto.
É a maior esculhambação que já vi na vida”. Ex-ministro Delfim Netto sobre os desaforos de Bolsonaro na saída do Alvorada.
Bolsonaro tenta se habituar à ideia de parar com declarações na “grade”, na porta do Alvorada, desde que o
jornalista Orlando Brito sugeriu que se dirija ao comitê de imprensa do Planalto sempre que quiser falar.
Militar disciplinado, o deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, não tem
conselhos para Bolsonaro. “Quem sou eu? O presidente é muito mais experiente, sabe tudo de política”,
afirmou.