COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Aumenta em um milhão, na pandemia, número de crianças que não sabem ler e escrever no Brasil

Dados são do Movimento Todos pela Educação, a partir de indicadores do Pnad Contínua, do IBGE

Imagem do autor
Cadastrado por

Margarida Azevedo

Publicado em 08/02/2022 às 19:23 | Atualizado em 09/02/2022 às 9:17
Notícia
X

Crianças que deveriam estar alfabetizadas foram gravemente impactadas pela pandemia de covid-19 no Brasil. Entre 2019 e 2021 houve um aumento de 66,3% no número de garotos de 6 e 7 anos de idade que, segundo seus responsáveis, não sabiam ler e escrever. É o que mostra um levantamento feito pelo Movimento Todos pela Educação a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2012 a 2021, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de crianças não alfabetizadas nessa faixa etária passou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021, ou seja, um aumento de um milhão de estudantes.

A nota técnica foi divulgada pelo movimento nesta terça-feira (08). "A situação é preocupante em diversas dimensões, como é o caso da alfabetização de crianças. As informações reportadas pelos respondentes da pesquisa do IBGE (Pnad Contínua) mostram um aumento expressivo no número de crianças brasileiras não-alfabetizadas, com impacto mais grave entre alunos negros e mais pobres, corroboram o que têm mostrado as avaliações de aprendizagem que Estados e municípios vêm aplicando em seus estudantes", destaca a entidade.

As escolas das redes municipais foram as que passaram mais tempo fechadas por causa da pandemia. É justamente nelas que estudam a maioria das crianças em idade de alfabetização. Em Pernambuco, por exemplo, o governo estadual só liberou a abertura dessas unidades em abril do ano passado, mais de um ano depois que as aulas presenciais foram interrompidas, em março de 2020, quando a covid-19 explodiu no Brasil. Mesmo assim, a maioria das cidades só reabriu as unidades na metade de 2021 e mesmo assim em esquema de rodízios de turmas.

Segundo a nota técnica, os percentuais de crianças pretas e pardas de 6 e 7 anos de idade que não sabiam ler e escrever passaram de 28,8% e 28,2% em 2019 para 47,4% e 44,5% em 2021, respectivamente, sendo que entre as crianças brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1% no mesmo período. Ou seja: reforçou a diferença entre crianças brancas e crianças pretas e pardas.

O Todos pela Educação destaca ainda que "também é possível visualizar uma diferença relevante entre as crianças residentes dos domicílios mais ricos e mais pobres do País. Dentre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%, entre 2019 e 2021. Dentre as crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%".

O movimento lembra que a "não-alfabetização das crianças em idade adequada traz prejuízos para aprendizagens futuras e aumenta os riscos de reprovação, abandono e/ou evasão escolar. Por isso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece a alfabetização como foco principal da ação pedagógica nos dois primeiros anos do ensino fundamental".

"A alfabetização na idade correta é etapa fundamental na trajetória escolar de uma criança, e por isso esse prejuízo nos preocupa tanto. E porque os danos podem ser permanentes, uma vez que a alfabetização é condição prévia para os demais aprendizados escolares. Precisamos urgentemente de políticas consistentes para a retomada das aulas, para que essas crianças tenham condições de serem alfabetizadas e sigam estudando. É inadmissível retrocedermos em níveis de alfabetização e escolaridade", observa o líder de políticas educacionais do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa.

Tags

Autor