Na educação, ações para a alfabetização e melhoria da aprendizagem dos estudantes precisam ser priorizadas desde o início da gestão do presidente Lula, a partir de janeiro de 2023, na avaliação do professor pernambucano Mozart Neves Ramos. Também é urgente recompor o orçamento para a merenda escolar e para as universidades federais, avalia ele.
Ex-secretário de Educação de Pernambuco (2003-2006) e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mozart deu entrevista sobre o assunto ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (17).
"Eu começaria pela alfabetização. As crianças menores foram as mais impactadas pela pandemia de covid-19. E o Brasil pode aprender com o Brasil. Com o Ceará, por exemplo, que é referência na alfabetização", comentou Mozart, ao ser questionado por onde começaria as ações na educação básica. Ele defende um trabalho articulado com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.
"Também será importante olhar o ensino integral. Não só o ensino médio, como é ofertado em Pernambuco. Mas o integral para os anos finais do ensino fundamental para dar maior capacidade de aprendizagem aos nossos estudantes, principalmente depois da pandemia", ressaltou Mozart.
"No campo social, tem que recompor a merenda escolar. O atual governo cortou R$ 63 milhões da merenda", afirmou o educador pernambucano. Atualmente ele é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Nacional de Educação.
GT DA EDUCAÇÃO
Mozart está em Brasília e participará, nesta tarde, de uma reunião do grupo de transição da educação. Foi convidado pelo coordenador do grupo, o ex-ministro Henrique Paim. Fará uma apresentação para mostrar o cenário do ensino superior brasileiro. As universidades federais vêm passando por cortes de verbas no atual governo Bolsonaro.
São 14 membros no grupo da educação. De Pernambuco fazem parte o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo; e a ex-deputada estadual e senadora eleita (PT-PE) Teresa Leitão.
"A situação das universidades federais é dramática. Há anos as verbas discricionárias, relativas ao custeio e manutenção das universidades, ou seja, para pagamento de água, energia e manutenção do câmpus, estão no limite. Não tem mais de onde tirar dinheiro", destacou Mozart. "E as universidades vêm sofrendo cortes, principalmente no governo Bolsonaro", complementou.
Mozart defende que as universidades adotem um novo modelo de gestão. "O atual modelo de gestão que está aí se exauriu há muito tempo. As universidades paulistas têm autonomia universitária, enquanto que as federais ainda estão muito presas ao governo central. Está na hora de propor um projeto de autonomia responsável para que o modelo de gestão cada mais se profissionalize nas universidades federais", sugeriu.
PLANEJAMENTO
"O próximo ministro ou ministra da Educação precisa ter uma grande capacidade de articulação para montar um plano estratégico naquilo que é essencial. Alfabetização, escolas em tempo integral", disse Mozart.
"Deve olhar também para o ensino técnico profissionalizante. De cada cem jovens que hoje concluem o ensino médio no Brasil, só 22 vão para o ensino superior. Precisamos pensar nesses 78 que não vão para a faculdade para que não façam parte da geração nem nem, aqueles que não estudam e não trabalham", comentou, destacando que a relação entre a riqueza de um país, medida pelo PIB, depende muito dos anos de escolaridade, dos anos de estudo da sua população.
"O próximo governo vai ter que fazer 8 anos em 4 anos. Porque nesses últimos 4 anos, seja em função da pandemia, seja por questões ideológicas do governo do presidente Bolsonaro, perdeu-se foco naquilo que era essencial. A aprendizagem dos nossos estudantes se agravou enormemente por causa da pandemia. E a desigualdade educacional, que aumentou muito em nosso País", enfatizou Mozart
"Será necessário um grande esforço nacional, envolvendo as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, numa agenda positiva, com muito foco na aprendizagem dos estudantes porque o atraso foi muito elevado, principalmente em relação às crianças menores. Todos os diagnósticos mostram isso claramente", enfatizou Mozart. Ele disse que será preciso "planejamento, foco, disciplina para saber onde colocar o dinheiro para ter bons resultados na aprendizagem".
Outra prioridade, observou Mozart, deve ser a formação dos professores. "Temos que olhar para frente, para o futuro. A gente está olhando muito pelo retrovisor, mas o Brasil precisa olhar para onde aponta o farol. Para isso vai ter que ser inovador, pensar fora da caixa, buscar gente inspiradora. Ter as melhores pessoas nas áreas estratégicas do Ministério da Educação".
MENOS GENTE
Para o ex-secretário de Educação de Pernambuco, o grupo de transição deveria ser mais enxuto. "Entendo que grupo de transição é pra fazer um levantamento da situação orçamentária, no caso da educação. Fazer uma radiografia do MEC para que o próximo governo, a partir dessa radiografia, possa tomar as medidas necessárias", afirmou Mozart.
"Na minha opinião, acho que há um número excessivo de pessoas no grupo de transição. Avalio que está muito grande essa equipe de transição. Isso pode criar uma certa dificuldade para dar homogeneidade ao trabalho", destacou Mozart.
Além de Henrique Paim e dos pernambucanos Heleno Araújo e Teresa Leitão, integram o GT da educação, por ordem alfabética:
– Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação;
– Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo;
– Binho Marques, ex-governador do Acre;
– Cláudio Alex, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) e reitor do Instituto Federal do Pará (IFPA);
– Macaé Evaristo, ex-secretária de Educação de Belo Horizonte e de Minas Gerais, vereadora e deputada estadual eleita (PT-MG);
– Maria Alice Setubal (Neca Setúbal), presidente do Conselho Consultivo da Fundação Tide Setúbal;
– Paulo Gabriel, ex-reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano e atual presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia;
– Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação;
– Ricardo Marcelo Fonseca, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal do Paraná;
– Rosa Neide, ex-secretária estadual de Educação do Mato Grosso e deputada federal (PT-MT)
- Veveu Arruda, ex-prefeito de sobral (CE) e marido da atual governadora do Ceará, Izolda Cela
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